Chuck Berry, Arnaldo Baptista, Jorge Ben, Caetano Veloso,
Billie Hollyday, Syd Barrett, Jimmy Page, Noel Rosa, Pete Townsend, Robert
Johnson, Bob Dylan, Miles Davis, Ludwig
Van Beethoven, Cartola, Luiz Gonzaga, Paul McCartney, Ray Charles, Johnny
Ramone, Bob Marley, Malcolm McLaren, Jimi Hendrix, Tom Jobim, Kurt Cobain,
Wolfgang Amadeus Mozart, Leadbelly.
Charles Chaplin, Jean-Luc Godard, Lumiére, Stanley Kubrick, James
Dean, Ingmar Bergman, François Truffaut, Audrey Hepburn, Sergei Eisenstein,
George Mélies, Alfred Hitchcock, Clint Eastwood, Steven Spielberg, Dziga
Vertov, Woody Allen, Glauber Rocha, Quentin Tarantino, Marlon Brando, Sergio
Leoni.
A partir dessa pequena listagem dos grandes gênios inovadores
das minhas duas maiores paixões, música e cinema, inicio uma tentativa de
explicação para uma sensação que eu chamo de ”fazer parte da história do
mundo”.
Comprei, há alguns dias, o disco Aproveite Agora, da
Comunidade Nin-Jitsu, que fez muito sucesso no seu ano de lançamento, 2003. Se
alguém não lembra, eis a oportunidade:
Essas coisas (sim, porque não tenho coragem de chamar de
música) deixaram marca na minha vida por eu ter assistido ao show de lançamento,
em Cachoeira do Sul, na melhor época da vida, de colégio e festas de
adolescente, mas não fazem “parte da história do mundo”. Morreram e nasceram lá,
em 2003, com suas gírias estranhas e com a sonoridade feita somente para vender
e para ser o hit do verão. (Aliás, alguém ainda lembra da Musa do Verão, do
Felipe Dylon?)
Assistindo a Tempos Modernos, de Charles Chaplin, por
exemplo, nos sentimos ”fazendo parte da história do mundo”, visto que
percebemos uma indignação com a Revolução Industrial, que ocorrera cinqüenta
anos antes do filme e influenciaria todas as vidas até hoje, com a troca das
pessoas pelas máquinas. A prova de que Charles Chaplin é atual acontece quando
ligamos para uma loja, por exemplo, e somos atendidos por aquela maldita
“secretária” eletrônica. A angústia sentida pelo simpático vagabundo ao
parafusar repetidamente é a mesma que sentimos quando não conseguimos sacar
dinheiro em um caixa eletrônico por ele estar estragado. Eu tenho saldo na
conta, pois trabalhei para isso, mas a minha grana está trancada naquela
maldita máquina, que nos distancia da nossa condição humana.
Por sentir essa necessidade de ”fazer parte da história do
mundo” é que prefiro ouvir Chuck Berry e
Tom Jobim a Michel Teló e Jason Mraz. Pelo mesmo motivo opto por assistir ao
Encouraçado Potemkin, do gênio russo Sergei Eisenstein e não à Última Música ou
à Trair e Coçar é só começar. O primeiro tem seu roteiro até hoje reconhecido
como revolucionário. Já o os outros dois, serão esquecidos dentro de pouco tempo.
É muito importante lembrar que, talvez, se eu assistir a
’Última Música’ ou ‘Trair e Coçar é só começar’ eu me divirta mais do que
contemplando a beleza do Potenkim de Eisenstein, mas a velha e boa necesssidade
de ”fazer parte da história do mundo” me gratifica depois. Eu não sou o cara do
“hoje”, mas o do “sempre”. Em 1925, um cara que, anos atrás, defendera a Rússia
na primeira guerra mundial no navio chamado Encouraçado Potenkin, fez um filme
sobre seu tempo de batalha naquele lugar. Observe que fantástica oportunidade
de sentirmos a emoção e terrores os da guerra.
Guerra, que mudou os rumos do século XX, no qual nasci e vivi
por treze anos. Por que diabos eu vou
curtir algo vazio que só vai me dar duas horas de diversão e amanhã será
esquecido por mim e por todo mundo?
Os primeiros minutos de Bonequinha de Luxo, se assistidos com
atenção, mostram esse mundo através da personalidade anárquica e desapegada de
Holly Golightly.
Não consegui encontrar o início do filme para mostrar aqui, mas vale a pena ver as melhores frases:
É exatamente por isso que me obrigo a ir a shows de artistas
como o Pearl Jam. Quantas pessoas que passaram pela minha vida que usavam
camisa xadrez e tênis All Star? Essa pergunta não parava de vir à minha cabeça
desde o dia em que fiquei sabendo que Eddie Vedder e companhia se apresentariam em
Porto Alegre. O mundo é muito maior que eu, portanto, o simples mortal que sou,
com consciência de toda a grandiosidade representada pela banda, foi obrigado a
ir ao espetáculo. Exatamente pela necessidade que tenho de ”fazer parte da história
do mundo”.
É preciso explicar que há dois tipos de obras cinematográficas
e musicais que nos levam a sentir ”fazendo parte da história do mundo”. A primeira
são casos como a Bonequinha de Luxo, que retrata, através da personagem de
Audrey Hepburn, o ser humano contemporâneo exatamente como ele é, inseguro e
livre devido à sua solidão, que, no final, acaba por aprisioná-lo e destruí-lo;
já o segundo, são aquelas obras legitimadas pelo tempo, como os dois primeiros
filmes da trilogia do Poderoso Chefão ou o Led Zeppelin, que tinham tudo para
ficarem esquecidos na década de 70, mas seguem sendo cultuados.
Eu não sou ninguém. Ao mesmo tempo, sou o mundo e,
consequentemente, sou todas AS PESSOAS, assim como todas AS PESSOAS são eu. Como
eu sou o mundo, concluo que preciso o observar de forma extremamente crítica e
criativa, para aprender a viver melhor. Eis que assim o faço, mais uma vez.
Por favor, nada pessoal contra quem assiste aos
filmes ou escuta as músicas que não “fazem parte da história do mundo”. Aqui,
exponho a necessidade que sinto de “fazer parte da história do mundo” e não
faço nada além de tentar explicar o que seria isso.