segunda-feira, 24 de junho de 2013

Até que ponto vale a pena?

É muito bonito um indivíduo abrir mão do conforto pessoal em nome de uma grande causa, de uma ideologia. Essa atitude é vista com grande apreço por vários setores da sociedade. Podemos citar aqueles que dedicam a vida à ONGs, a projetos de inclusão social ou ao cuidado com os animais abandonados, por exemplo. Recebem elogios emocionados e são admirados por todos. Desde pequenos, somos ensinados a doar roupas e brinquedos, a ser solidários. Em várias entrevistas de emprego, somos perguntados se já fizemos trabalho voluntário. Se a resposta for positiva, nossas chances de contratação aumentam consideravelmente.
No filme Faces da Verade (Nothing but the truth, EUA, 108 min), a personagem Rachel Armstrong, vivida por Kate Beckinsale, foi tentada, de diversas formas, a fazer algo que ia contra sua ética profissional; revelar o nome de uma fonte para a qual ela tinha prometido sigilo absoluto. Como não cedeu, acabou presa e, por isso, arruinou sua vida, sendo traída pelo marido, que se sentia solitário, e correndo risco de perder a guarda de seu filho, além de levar uma surra na cadeia.
Trata-se de mais um caso como os citados no primeiro parágrafo. De acordo com o meio acadêmico, com as conversas idealistas e com o imaginário coletivo, as profissões têm princípios a serem seguidos, que nunca devem ser preteridos. Baseada nisso, a jornalista da película deixou de lado toda sua vida pessoal, preferiu ser vista com bons olhos por esse mundo hipócrita ao invés de se preocupar com a família dela. Tanto que concorreu a um prêmio e recebeu a notícia na casa de detenção.
Ora, como não seria postulante a mérito alguém que seguiu as regras de forma tão obediente? Foi uma heroína, posou de mártir e exemplo a ser seguido, mas acabou sofrendo e sendo infeliz naquilo que mais importa, a vida pessoal. Para quem olha de fora, é sensacional, mas para quem vive, não. Esses ensinamentos que ouvimos na infância, de praticar boas ações para os outros e o incentivo que recebemos para sermos voluntários são o maior exemplo dessa falta de felicidade, que hoje em dia impera. A dedicação às aparências, tudo por um curtir nas redes sociais, um aplauso na rua. O homem pós-moderno é um exemplo de sucesso diante da sociedade, mas um fracasso na hora de olhar nos olhos dos seus filhos.
Jamais ele deve tentar agradar a maioria, seguir os acordos tácitos da sociedade se, para isso, for preciso negar seu individualismo e aqueles a quem ama.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Audrey Hepburn, Jim Morrison, eu e você

Estávamos nós quatro  ali, conversando sobre a vida.
O parque estava escuro.  Os bancos molhados pela chuva. O vinho se misturou ao nosso sangue. Agora, estamos prontos para a viagem. Então? VOCÊ pode vir ou vai continuar resistindo ao seu destino?
Ela está chegando perto de nós. O vestidinho preto feito sob medida e a piteira segurada de forma doce não deixa dúvidas. Está radiante e sexy como sempre. Meiga, ela toma conta de meus pensamentos e me cativa. O Morrison também está chegando, embriagado como sempre.  Na verdade, tenho muito orgulho dele.
VOCÊ quer me abraçar agora? Vem, chega perto e entrega tuas angústias. Estamos quase lá. Os anos nos separaram deles, mas o destino juntou nossas quatro almas. Eu sou amigo do Jim Morrison e da Hepburn. A nossa proximidade se dá pela extrema carência dela e pela necessidade que ele tem de curtir cada noite como se fosse a última.
 O Morrison nos protege dos perigos desse mundo. Vamos irromper para o outro lado a convite dele. E o olhar poderoso da Bonequinha de Luxo me encoraja a seguir em frente.  Vamos continuar com eles ou nos aproximar daqueles que querem acabar com nossa vida, comprando nosso tempo e nossa vontade de fazer festa e de ser livres? Vida, curtição, emoções, amizades e amores eternamente intensos de uma noite só.
Sigo olhando para ela e penso como foi bom viver os anos 60. A magia toma conta de mim. Hepburn foge de repente, gritando. Provavelmente esteja magoada, mas sempre me entendo com ela no final. Ela senta no meu colo. Conversamos e fica tudo bem. Como foi teu encontro com ele? Conseguiu apagar o fogo dele? Ah, deve ser bem difícil. Mas eu sei que VOCÊ pode. Ele me confidenciou recentemente, em sonhos, que VOCÊ faz o tipo dele.
Estamos ligados desde o mais distante passado. Enquanto Eva convencia Adão a comer a maçã e amaldiçoar a raça humana, nós quatro fugíamos do óbvio e bebíamos no paraíso.
Ela cantava Moon River. Ele dizia: “Me ame em dobro, baby”. Geralmente ela ia com ele e VOCÊ, comigo. Nos escondíamos e tentávamos não ser mandados para esse mundo cão. Nossa condição era virmos juntos, nascermos no mesmo ano, mas o grande Deus não nos permitiu. Que pena. Teria sido divertido. Agora estou esperando, ansiosamente,  o fim desse corpo que me aprisiona. Somente assim, poderei me libertar desses desejos malditos que acabam com meu necessário raciocínio. Mas a Miss Hepburn chega quietinha, sussurra nos meus ouvidos e acabo sempre indo curtir mais uma festa na enlouquecedora rua dos amores impossíveis.
VOCÊ entrou no  seu corpo na mesma cidade que eu, foi obrigada gostar dos mesmos lugares. E por que renega as origens? Vamos voltar. Lembra dos nossos whiskeys? Vamos bebê-los de novo. O Morrison está querendo dormir na mesma hora em que ela chega em casa. Vão se amar loucamente. O gatinho sem nome grita e eu acabo indo socorrê-lo. VOCÊ vem ver o que está acontecendo e também deita na cama. Não para adormecer. Eu não participo, somente filmo tudo, bem de longe, pois meu corpo é incompatível com a felicidade. VOCÊ sempre adorou um rockstar. Estava nos planos eu ser um, mas acabei fracassando, por motivos que VOCÊ conhece bem.
This is the end, our only friend, the end. We got to leave the show. But before, let’s have a Breakfast at Tiffany’s. Como é bom ter amigos famosos. Isso fez com que adquiríssemos bem cedo a capacidade de pensar por contra própria e de refletir sobre a verdadeira razão da vida. Durante a Era do Jazz, nós queríamos descer para o mundo, mas não foi permitido. Deus disse que não teríamos sido compreendidos. Ah, como queríamos ter nascido em Paris. Era nosso plano desde a reconstrução da cidade no fim do século XIX.

Vem aqui, coloca tua cabeça no meu peito e deixa eu sentir o cheiro do teu lindo cabelo moreno. O vinho acabou. O Jim Morrison foi dar uma volta em Paris e a Miss Hepburn foi tirar umas breves férias no Cantão de Vaud.