quarta-feira, 25 de julho de 2012

O desafio de ser o Lucas, não um "homem de 25 anos"

Como hoje estou completando 25 anos, resolvi relembrar o que algumas pessoas já tinham feito com essa idade.
Para começar com as maiores pessoas que o mundo já conheceu, o meu pai foi o candidato a prefeito mais novo do Brasil em 1982, além de ter fundado o Partido dos Trabalhadores em Cachoeira do Sul anos antes. Com essa idade, ele já era casado com a minha mãe, que, por sua vez, já tinha acabado a faculdade e contribuído com textos para a coletânea "Poetas do Vale" de Cachoeira do Sul.
Fico lembrando que quando os Casacavelettes se separaram, todos os integrantes tinham menos de 25 anos. Ou seja, eles fizeram aquela obras eternas com vinte aninhos, que incrível!
Paul, George, Ringo e John já tinham conquistado o coração do o mundo, Keith Richards e companhia já tinham gravado Satisfaction e Elvis já era o homem mais cobiçado pelas mulheres e o mais imitado pelos homens.
Com 25 anos, Charles Chaplin interpretou pela primeira vez o maior personagem da história do cinema, o"Little Fellow" ou "The tramp", o Carlitos, como ficou conhecido no Brasil.
Pelé já era o rei do futebol após encantar o planeta com seus gols na copa da Suécia e nos mundiais de clubes de 1962 e 1963.
Arthur Schopenhauer fez sua dissertação de doutorado aos 25 anos, com argumentos já avançadíssimos sobre sua pricipal teoria; a de vontade e representação.
Bob Dylan já tinha grravado cinco discos de estúdio, estava preparando seu primeiro ao vivo e até já tinha sido chamado de "Judas" pelos puritanos do folk por ter usado guitarra elétrica.
Roberto Marinho tornou-se editor chefe do jornal O GLOBO com 21 anos.
Aos 25 anos, o genial Orson Welles dirigiu, escreveu e protagonizou "Cidadão Kane", considerado pelo American Film Insitute  como o maior filme americano de todos os tempos.

Bom, mas o meu desafio é não deixar isso me abalar. Se ainda não fiz grandes coisas, como as grandes pessoas citadas a cima, preciso me focar e seguir a vida para um dia chegar lá.
Uma das minhas principais preocupações é não me permitir "ser engolido" pelos conceitos e interpretações que acompanham determinados fatores da vida.
Refiro-me, por exemplo, às profissões.
Os conceitos, as expectativas e a simbologia que acompanham as palavras "jornalista", “advogado”, “médico” e “dentista”, por exemplo, são bem maiores e poderosos do que qualquer indivíduo. Assim como a expressão "homem de 25 anos".
Restam duas opções para esse ser humano medíocre; primeira, banalizar-se, a partir do pensamento “sou um médico” ou "tenho 25 anos", passando a agir como tal, baseado na imagem já existente na sociedade, deixando de ser ele mesmo ou então, como segunda opção, pensar muito, livrar-se desses conceitos e viver sua vida normalmente. Dessa vez, sim, como uma pessoa normal, não como um fantoche fantasiado de "pessoa de 25 anos" ou de "profissional da medicina", mas sem uma bagagem emocional para suportar essas responsabilidades.
O importante é seguir vivendo apesar de tudo e com tudo. Eu sou o mesma pessoa que entrou na pré-escola louca para estudar, a mesma que jogava futebol das 15h às 20h e só não virava a noite porque a mãe mandava parar, a mesma que fez de tudo para escapar do exército e conseguiu com a grande ajuda da mesma maravilhosa mãe, a mesma que conseguiu ingressar no jornalismo da PUC após quatro tentativas no ENEM e que hoje completa 25 anos tentando esquecer que é a "metade de 50".

domingo, 22 de julho de 2012

Era uma vez uma vida

Era Uma Vez em Tóquio ou Contos de Tóquio (Tokyo Story) é um belo filme, feito no distante ano de 1953, por um diretor pouco conhecido pelo grande público, até mesmo na sua época, chamado Yasujiro Ozu. Ele fazia filmes intimistas, sem nenhum apelo comercial e esse foi seu maior êxito, décadas depois reconhecido por críticos como uma obra máxima do cinema. Filmado com â camera no chão para passar a ideia de dia-a dia, Era Uma Vez... nos insere na vida de uma tradicional família japonesa, na qual os filhos saíram da casa dos pais para tentar a vida na cidade grande, no caso, Tóquio.
Em meio à alguns elementos da cultura japonesa e diálogos corriqueiros, tentemos observar a sutileza de
Ozu. Ele nos mostra que a vida é aquilo mesmo: conversas sobre as refeições, a hora de dormir, os gostos das pessoas, lembranças de velhos vizinhos já falecidos. A partir do momento em que somos capturados pela percepção de rotina do diretor, ele nos dá um duro golpe. Já incluídos nela, passamos a perceber quão dura e triste pode ser a vida, quando ela deixa de ser normal.
A morte, os conflitos de gerações e o abandono tomam conta da tela para que a mensagem final nos seja transmitida de forma clara. A personagem mais sonhadora do filme pergunta: "A vida não é decepcionante?". A resposta vem acompanhada de um sorriso: "Sim. Ela é."A conclusão do filme pode ser considerada conformista por aqueles que conseguirem "aguentar" os intermináveis 135 minutos, mas levando em conta todos os aspectos levantados por Yasujiro Ozu, concordaremos com ele.

Quem quiser se arriscar, o filme foi lançado pela Versátil Home Video.





segunda-feira, 16 de julho de 2012

MUNDO

Existe uma propaganda atualmente na qual as pessoas seguram um tablet e falam orgulhosas: "Este é o meu MUNDO", apontando para os seus aparelhos. E eu, ali, sentado, vestindo moleton e calça velhos, em frente a uma simples televisão de 29, me pergunto: "Se o MUNDO delas é um tablet e as informações as quais eles têm acesso por ali, qual será o meu?". Qual será o MUNDO do senhor que fez os lanches que minha mãe, meus irmãos e eu comemos hoje à noite? E o da minha vizinha que passa a tarde sentada na frente da casa? E qual será o MUNDO do rapaz que esses dias veio vender abacates aqui em casa para alimentar seu vício em crack?
Nós não temos mundo porque não temos tablets?
Para os crentes, MUNDO refere-se à comunidade formada por todas as pessoas que não são cristãs. A música popular, por exemplo, é conhecida como "música do MUNDO", essa sendo considerada impura e pecaminosa. Nesse caso, o tablet da moça da propaganda é o pecado dela, a forma de se afastar de Cristo.
Wittgentein considera um "mundo como totalidade dos fatos", que independe da interpretação do homem. Para ele, o MUNDO é uma verdade absoluta. Nesse momento, lembramos mais uma vez da propaganda e concluímos que a moça vive em função daquele aparelho tecnológico, pois ele é seu "fato absoluto". Que mesquinha.
Schopenaheur defende que o MUNDO é criado a partir da representação do indivíduo, ou seja; não há MUNDO antes das pessoas manipularem-no. Pelo princípio de Schopenhauer, a moça quer que seu MUNDO seja daquela forma; cheio de possibilidades, mas solitário, sem emoção e com poucas chances de verdadeira comunicação.
Martin Heidegger vai além, considerando impossível conceituar "MUNDO" antes de entender o homem.
"Mundo e homem constituem pressupostos inevitáveis e elementos primordiais para a abordagem metafísica da questão de mundo", afirma ele. O "problema do  MUNDO" está eternamente inerente ao indivíduo.

Independentemente de qual dessas ideias de MUNDO acreditamos ou defendemos, em nenhuma delas um tablet pode ser considerado o nosso "MUNDO". O pior é que a maioria esmagadora das  PESSOAS considera isso uma evolução. Dessa forma, a humanidade segue a passos largos rumo ao enlouquecimento, ao seu  ADMIRÁVEL MUNDO NOVO.
O MUNDO dos seres pensantes depende do ser humano e existe em função dele, mas o nosso mundinho atual está transportando-se rápida e perigosamente para dentro de uma tela.