É
muito bonito um indivíduo abrir mão do conforto pessoal em nome de uma grande
causa, de uma ideologia. Essa atitude é vista com grande apreço por vários
setores da sociedade. Podemos citar aqueles que dedicam a vida à ONGs, a
projetos de inclusão social ou ao cuidado com os animais abandonados, por
exemplo. Recebem elogios emocionados e são admirados por todos. Desde pequenos,
somos ensinados a doar roupas e brinquedos, a ser solidários. Em várias
entrevistas de emprego, somos perguntados se já fizemos trabalho voluntário. Se
a resposta for positiva, nossas chances de contratação aumentam
consideravelmente.
No
filme Faces da Verade (Nothing but the truth, EUA, 108 min), a personagem
Rachel Armstrong, vivida por Kate Beckinsale, foi tentada, de diversas formas,
a fazer algo que ia contra sua ética profissional; revelar o nome de uma fonte
para a qual ela tinha prometido sigilo absoluto. Como não cedeu, acabou presa
e, por isso, arruinou sua vida, sendo traída pelo marido, que se sentia
solitário, e correndo risco de perder a guarda de seu filho, além de levar uma
surra na cadeia.
Trata-se
de mais um caso como os citados no primeiro parágrafo. De acordo com o meio
acadêmico, com as conversas idealistas e com o imaginário coletivo, as
profissões têm princípios a serem seguidos, que nunca devem ser preteridos.
Baseada nisso, a jornalista da película deixou de lado toda sua vida pessoal,
preferiu ser vista com bons olhos por esse mundo hipócrita ao invés de se
preocupar com a família dela. Tanto que concorreu a um prêmio e recebeu a
notícia na casa de detenção.
Ora,
como não seria postulante a mérito alguém que seguiu as regras de forma tão
obediente? Foi uma heroína, posou de mártir e exemplo a ser seguido, mas acabou
sofrendo e sendo infeliz naquilo que mais importa, a vida pessoal. Para quem
olha de fora, é sensacional, mas para quem vive, não. Esses ensinamentos que ouvimos
na infância, de praticar boas ações para os outros e o incentivo que recebemos
para sermos voluntários são o maior exemplo dessa falta de felicidade, que hoje
em dia impera. A dedicação às aparências, tudo por um curtir nas redes sociais,
um aplauso na rua. O homem pós-moderno é um exemplo de sucesso diante da
sociedade, mas um fracasso na hora de olhar nos olhos dos seus filhos.
Jamais ele deve tentar agradar a maioria, seguir os
acordos tácitos da sociedade se, para isso, for preciso negar seu
individualismo e aqueles a quem ama.