Minha condição de trabalho atual não é tão favorável. Adoro
a noite, mas a troquei por dez notinhas verdinhas e pelo início da realização
de um sonho profissional. Não costumo errar nesse tipo de escolha. Serei
recompensado, mas estou bancando o infeliz, do tipo que muito pensa no futuro e
ignora o presente. Me seguro diante das tentações. Só tomo refrigerante nos
finais de semana, andei recusando algumas festas e fazendo pouco caso das
minhas antes sagradas noites de sábado.
Nesse momento, durmo até às três e meia da tarde
para me esconder da vida. Brinco
de ser gente normal, sendo que se uma criança visse meu interior sentiria mais
medo do que diante de qualquer filme de suspense. As dúvidas eternas e o “velho
sonho que vai dar sempre onde começou”, como disse Raulzito.
Escuto samba olhando para o pôster do Pink Floyd que
preenche quase a metade da parede do meu quarto. Escuto Eminem e o considero
mais punk que o Green Day, o Blink-182 e o Offspring juntos. (algum dos três
costuma enterrar a mãe nos videoclipes?). Curto filmes que me emocionam demais. Idolatro o Dom Corleone, mas se ele fosse real eu
o odiaria. Não estou arrependido de nada que fiz nessa vida, de absolutamente
nada mesmo. Eu fui bem melhor do que eu poderia e bem pior do que eu esperava.
Aos seis anos, eu dizia que queria ser fotógrafo e mecânico (ao mesmo tempo), aos onze queria ser o Marcelinho Carioca, com treze, achava que jogava futebol igual ao Lúcio (ex-zagueiro do Inter) e com quinze, pensava ter nascido para ser pastor evangélico. Em 2003, com dezesseis, sonhava ser vocalista de uma banda obscura de rock’n roll ou o novo Mr. Pi. Aos dezessete, me considerava alternativo, diferente, especialmente quando enchia a cara cantando Legião Urbana sentado no chão da Praça Honorato.
Com dezenove, vim para Porto Alegre para tentar me encontrar
e encontrei o Lucas que eu procurava, mas acabei perdendo aquele que ficou em
Cachoeira do Sul. Eis o paradoxo; sinto saudades dele e ele desejava ser como
eu sou hoje. Que orgulho ele deve estar sentindo de mim! Nunca vou me dar por
satisfeito com a vida. E depois de tantos anos considerando isso ruim, me
conformei que essa insatisfação eterna é totalmente edificadora.
Feliz aniversário para mim. Eis que envelheço na cidade. E o
faço na cidade que escolhi para isso. Chego à data tão esperada por um grande
amigo meu, metido a piadista, um verdadeiro gênio. Ele dizia que um dia eu
completaria vinte e seis anos no dia 26. "Isso acontece no máximo uma vez na
vida" de qualquer ser humano. Que momento. Esse dia é meu e dos meus pais que
fizeram de tudo para que ele acontecesse. Nasci e recebi uma educação tão
perfeita, que não consigo fugir dela, por mais que às vezes eu tente.
Não consegui realizar sonhos ainda. Mas, na profissão que escolhi, posso estar bem próximo daqueles antigos anseios. Já entrevistei dois radialistas (Mr. Pi e Lauro Quadros), um pastor (Fernando, da Igreja Quadrangular) e ainda serei um pouco fotógrafo e outro tanto, radialista. Já entrevistei um repórter esportivo presente em várias Copas do Mundo (Zé Alberto Andrade). Finalmente, como diz o maior professor que eu tive, Sr. Marques Leonan: “jornalista é aquele que pode chegar até no Presidente da República e exigir explicações”. Minha profissão, minha paixão. Um dia chego lá. Estou no caminho certo e não vou desistir em troca de prazeres quiméricos (eu tentando me convencer de algo).
Por mais paixão que eu possa ter por uma carreira, jamais
vou querer que meu lado profissional supere meu lado pessoal. O Lucas Vidal
Domingues sempre vai se sobressair àquele funcionário que tiver sua foto
estampada no crachá e seu nome gravado no e-mail da empresa.
Sim, aniversário me faz pensar muito, com extrema seriedade e dedicação. E tudo isso faz todo o sentido para mim.