Após ler esse texto, você perceberá que sua
felicidade é uma
mentira que contaram para você. Se não foi contada por outros, foi uma
besteira
que você mesmo, em uma atitude inconsciente e desesperada, obrigou-se a
acreditar.
Prova número um: Você precisa deixar de ser você
para
conquistar aquilo que você quer. Logo, quem conquista não é você, mas o
“ser”
que você foi obrigado a se tornar para obter tais resultados. No final,
você
ficará feliz? Não, porque você não será mais você. O ser humano vai se
adaptando e se transformando. Portanto, o “você” que conquistou será
sempre
diferente do “você” que antes queria aquilo que foi conseguido.
Exemplificando: Imaginemos uma pessoa de 17 anos
que deseja
muito ser professora de matemática. O primeiro passo dela será estudar
muito,
devorar os livros para passar no vestibular. Mesmo sendo uma apaixonada
por
exatas, terá que saber diferenciar os tipos de rochas, não poderá nem
pensar em
chegar ao dia do vestibular sem lembrar o que é uma meiose, uma mitose,
um
dígrafo. Quem são os autores que representaram a geração “mal do
século?” Mal
do século é ela ter que estudar esse tema, sem ter o menor interesse.
Ao chegar à faculdade, ela encontrará todos os
tipos de
pessoas e terá que se adaptar àquele novo estilo de vida. Comer no R.U,
esperar
ônibus ou depender de uma van, do pai que busca. Ela adorava dormir até
tarde.
Se estudar à noite, ele perderá parte da vida noturna. Caso o turno de
estudo
for a manhã, pior ainda. Alguns amigos de escola trocarão de cidade,
também em
busca do maldito sonho. As festas que costumava frequentar já não lhe
serão
“permitidas”, pois são “coisa de ensino médio”.
Depois de se formar, terá que agradar ao dono de um
cursinho
ou passar em um concurso público para conseguir realizar seu grande
desejo.
Relembrar a forma correta de usar a crase e os “porquês” ou mudar de
personalidade, mais uma vez, para satisfazer outra pessoa? Me digam,
amigos. O
que restou daquela jovenzinha que tanto se esforçou para chegar até ali?
Só o
nome.
Não tem para onde fugir. Se você não fizer nada na
vida, não
terá emoções nem realizações. Se tentar fazer algumas coisas, a maioria
dará
errado. E o que der certo, não trará satisfação, exatamente pelo motivo
citado
acima. Por isso, o gênio Schopenhauer defendia com grande inteligência
que, no
inferno que é a vida, devemos encontrar um recanto à prova de fogo. Essa
fuga,
de acordo com o autor, é a arte. (em breve, neste blog, um texto
tratando da
arte como recanto à prova de fogo).
Prova número dois: Você já pensou qual é a
tendência das
inúmeras situações da vida? Por exemplo, se você comer tudo que você
quiser e
praticar exercícios físicos somente quando realmente tiver vontade, com
qual
peso e em quais condições de saúde você chegará aos 40 anos? Se você
conseguir
sobreviver, você será obeso. Bem obeso. Não minta para você mesmo, nem para mim. Admita que se você não se
esforçar nem um pouco e comer só aquilo que realmente lhe apetece, seu cardápio diário seria carne gorda,
batatas fritas, ovo frito, X bacon, pizza com muito queijo, bastante
maionese e
muito refrigerante ou cerveja. Esses são só alguns exemplos, mas não
diga que
seu prato preferido é alface, por favor. Chá? Só porque você faz um
esforço.
Você jamais serviria brócolis e ficaria uma hora na
academia
ou na esteira. Ora, se o normal e natural te faria mal, então o natural e
normal da vida é ela dar errado. Eu sei que talvez você ache que gosta
de ir à
academia, mas pode dizer para você mesmo, agora, enquanto lê esse
pretensioso
texto, que ficar no sofá com o controle remoto na mão é muito mais
prazeroso.
Você tenta se enganar, porque somos convencidos desde a infância a
sermos
infelizes e a não fazermos o que gostamos. “Não come salgadinho, come
fruta”,
dizem as mães bem intencionadas. Ora, como elas foram instruídas dessa
forma,
acabam perpetuando, obedientemente, a infelicidade. Mas preciso dizer
que elas
são vítimas e não carrascos. Eu faria o mesmo pelo meu filho.
Se a vida fosse feita para dar certo, você não
precisaria se
esforçar para chegar à meia idade com saúde. Repito, o comum é a vida
dar
errado.
Prova três: Quantos dedos você tem? Bom, se você
não for o
Lula, você tem vinte. Certamente você já chutou o chão e ficou com um
dos vinte
doendo muito. Tente lembrar-se desse dia. O que mais chamou a atenção, o
dedo
machucado ou os outros dezenove bons? Não minta. Você teve que fazer um
grande
esforço para tentar esquecer-se do dedo dolorido. Preste bastante
atenção. Mais
uma vez foi preciso esforço para esquecer-se
do que estava ruim e lembrar-se do que estava bom. Fazer força
para
fugir do destino natural da vida, a dor.
Para finalizar esse argumento: quando você vai ao
supermercado comprar dez itens e encontra nove, qual que mais vem à sua
mente
depois de chegar em casa com as compras? É terrível essa vida, não é
mesmo? O
queijo está ali na sua mesa, o suquinho também, mas o controle da TV
está sem
pilha e você não comprou. O café será ruim, porque você terá que
levantar da
cadeira cada vez que quiser trocar o canal. Se faltasse o suco, o pão
teria dificuldade
para descer e de nada adiantaria o controle remoto funcionando. A
garganta
seca, com farelos, seria o centro de sua atenção.
Prova quatro: a convivência
com os amigos e familiares. Pense nas pessoas que você mais ama. Quantas
vezes
você fica irritado e de mau humor por conta de alguma atitude delas? O
natural
nesses momentos seria você xingar, brigar, gritar, pois essa é a vontade
que
simplesmente vem sem que você peça. Cabe ao animal, ao homem das
cavernas que
se acha culto, controlar seu instinto, respirar fundo e, em mais um ato
de
grande esforço para inverter a lógica da vida, conversar de forma
educada.
Estamos falando daqueles pelos quais você tem
grande apreço.
Imagine se fosse com alguém por quem você não tem quase nenhum carinho. A
vontade, às vezes, é soquear até a morte. Uma pena que o homo sapiens
domesticado não possa ferir seu semelhante.
Sem esforços,
infalivelmente, você será infeliz.
Se fizer o impossível para conseguir seu recanto à prova de fogo,
perceberá, no
final, que teria sido bem melhor se toda a humanidade tivesse se atirado
no
lago e morrido queimada de uma vez.A imagem ao lado é do genial filme A Rotina tem seu encanto (1962), de Yasujiro Ozu, o cineasta do cotidiano.
Um comentário:
Bom texto Lucas!!
Ontem mesmo pensava sobre solidão e infelicidade; morbidez em geral e não pude evitar de escrever um post.
São assuntos geniais e temidos, a nos perseguir...
beijos!
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