Nunca vou amadurecer, nunca vou me considerar "um grande profissional" ou "um homem". Nunca vou ser engolido pelo mundo maldito e ser sugado por esse interminável e nojento teatro de fantoches, no qual cada um assume uma posição e age de acordo com ela. Não quero meter medo nas pessoas por ter um cargo "superior", nem por me vestir como um trouxa e cheirar a perfume caro.
"Ah, mas um jornalista precisa saber isso ou aquilo". "Como tu não sabe, disso, jornalista?". Não sou "um jornalista". Guardem suas generalizações e suas determinações sufocantes para quem merece, não para mim. Eu estudo jornalismo porque eu gosto do assunto. E pronto.
Serei sempre eu, acima de tudo, de qualquer profissão, de qualquer empresa, de qualquer momento, modinha ou tendência. O garoto de Cachoeira do Sul, que aprendeu a ser gentil e educado com todos. Que antes de ouvir ensinamentos teóricos, aprendeu na prática com os melhores pais do mundo a ser um cidadão de verdade e uma pessoa feliz. Ler, estudar, ter cultura, pensar a política, o mundo e a mídia de forma crítica. Também vi eles se divertindo sem culpa, seja com uma viagem ou com uma bela refeição.
Vi com os jovens olhos um pai genial tratando os amigos de forma criativa e divertida, sem restrições. Ele sempre foi, e ainda é, um lindo sonhador, com um idealismo emocionante e contagiante e o maior coração do mundo. "Estou lutando por uma vida mais digna para os nossos filhos", dizia ele ao sair de casa empunhando a bandeira do partido do coração em anos de eleição. Ninguém faz um churrasco como ele.
Vi a mãe dando comida e roupas para quem não tinha. Também presenciei a luta dela, guerreira incansável, para construir uma casa nova. Está impressa irreversivelmente na minha memória a imagem dela cozinhando de guarda-chuva, por conta das goteiras existentes na cozinha da casa antiga, que havia sido construída pelas mãos do meu avô que não tive a oportunidade de conhecer.
Por isso, será o LUCAS trabalhando ou estudando em algum local, não o local tendo o lucas como propriedade sua e moldando a personalidade e os costumes dele.
Não vou me entregar. NUNCA!
Ser uma pessoa que precisa trabalhar, não um profissional. Eis o meu objetivo de vida. O mundo está cheio de profissionais que nem lembram mais que são indivíduos e que podem sentar na sombra de uma árvore para refletir, lembrar da infância, conversar com um velho amigo, se divertir sem culpa, enlouquecer entorpecido nas noites de sábado. Ou simplesmente não fazer nada, não pensar, não ter opinião, não falar. Só respirar e sentir. Sentir muito. Para valer. E deixar que os loucos corram nos seus carros e nos shoppings centers.
Cada vez mais, o jovem se interessa somente pela própria vida profissional, sufocado pela obrigação de escolher um curso assim que sai do ensino médio. O garoto não tem os pelos pubianos completos e os seios da garota ainda estão em crescimento, mas eles têm que saber o que querem fazer da vida e aprender a pensar de forma empreendedora, a projetar a carreira. São exatamente esses que votam no ídolo do futebol para deputado, no Sarney para senador e dizem que "são todos ladrões". Porque não são seres pensantes de forma geral, só são especializados na sua área e precisam do título de doutor para serem respeitados.
Dessa forma, as pessoas serão cada vez mais jovens de terno e gravata se comportando como adultos, queimando etapas, não tendo a permissão de parar para pensar o que querem de verdade, nem o que são de verdade. Reportagens mostram garotas de quinze anos que vendem roupas, abrem empresas. Para que? Não é por falta de dinheiro, porque, se fosse, elas seriam obrigadas a trabalhar com algo mais braçal, não teriam tempo de arriscar em um negócio tão incerto como as vendas.
Meus filhos, que Deus me ajude a tê-los, serão vestidos como crianças enquanto o forem, vão brincar na terra, subir em àrvore e lidar com as pessoas de forma igual, sem nenhum tipo de diferenciação. E eles serão escutados nas discussões da família, como eu era, não serão simplesmente "as crianças da casa", que são expulsas da sala na hora de falar sério.
5 comentários:
Interessante pensar sobre essa necessidade de rotulação que a sociedade atual nos impõe... você tem que ser alguma coisa, não basta ser você... mas eu sempre quero ser eu antes de tudo. E sobre o fim da infância, vejo exemplo claro dentro da minha família... pode ser que hoje, por termos melhores condições e mais acesso ao ensino superior, não cobre-se do jovem casar e trabalhar tão cedo... mas ainda é exigido que ele saiba em idade precoce o que quer fazer "ser" para o resto da vida.
Ótimo texto Lucas...
É bom esse pensamento, em essência, lindo; de se recusar a ser deglutido pelo nosso tedioso e monstruoso Sistema. Porém o quanto isso é utópico e o quanto isso é real, saberemos daqui uns anos. Jornalista é a profissão mais bela de todas porém massacrante e, infelizmente, muito desacreditada.
Realmente interessante manter os princípios, não somente enquanto se é jovem mas quando se cresce
( e aí que é difícil).
Bom texto!
Acho que meninas que trabalham com vendas geralmente estão lá pois precisam do dinheiro.
Essa questão de decidir o queremos ser é realmente bem massacrante, Dani. Como tu disse, não basta sermos nós.
Verdade, Carol. Acho que, pelo menos no Brasil, o principal motivo da descrença com o jornalismo são os atos da maior empresa de comunicação daqui, que apoiou a ditadura militar, entre outras barbaridades.
Obrigado pelos comentários, gurias.
Gostei do texto.
Interessante como famílias "parecidas" nos levaram a ter pensamentos bem coerentes.
As vezes é difícil essa luta contra o que a sociedade nos impõe. Porém convenhamos, já é bem mais fácil para nós "sermos nós mesmos" do que fora na época dos nossos pais.
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