quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

As pessoas


As PESSOAS vivem fazendo grandes planos para o futuro e esquecem do passado.

As PESSOAS mudam de filme preferido todos os anos.

As PESSOAS preferem as músicas de sua época.

As PESSOAS vão ao show da Paula Fernandes.

As PESSOAS ficam horas na fila para ver o Justin Bieber fazer playback.

As PESSOAS odeiam a Geni, jogam bosta nela, a bajulam quando precisam dela e depois votam a jogar bosta, sem nenhuma gratidão.

As PESSOAS não sabem valorizar os feitos umas das outras. Não existem méritos, somente obrigações.

As PESSOAS são falsas, falam pelas costas ou são sinceras demais, ao ponto de falar xingando e gritando a todo o momento e de não aceitar as opiniões diferentes das suas.

As PESSOAS fazem festa, conversam entre si, trocam telefones e conhecem alguém novo a cada fim de semana.

As PESSOAS lutam pelo poder, se transformam em poderosos de coisa nenhuma e depois passam a pensar que são donas do mundo e que todos os outros estão na Terra às suas ordens.

As PESSOAS bonitas e ricas se julgam deusas intocáveis, absolutas.

As PESSOAS pobres têm pena de si mesmo, não fazem nada para mudar e colocam a culpa em Deus ou na Dilma.

As PESSOAS acabam o ensino médio e vão para a faculdade com 17 anos, sem pensar porque nem para que. Simplesmente porque a mãe mandou ou porque o filho do amigo do pai disse que é legal.

As PESSOAS torcem pelo time do pai e torcem contra o rival do time do pai, só por um costume imbecil, uma cultura débil mental.

As PESSOAS não estudam na escola porque é feio ser CDF.

As PESSOAS, quando estudam, o fazem para entrar na faculdade, no curso que o pai mandou.

As PESSOAS são medíocres, mesquinhas.

As PESSOAS usam calça justa quando a moda determina.

As PESSOAS escutam rock porque usam all star ou usam all star porque escutam rock?

As PESSOAS baixam a discografia completa e nem se preocupam em saber o ano, o contexto do disco. O que estava acontecendo com o artista, porque ele disse aquilo?

As PESSOAS não têm mais ídolos e, quando tem, não são seus, mas de uma maioria, que é direcionada por um sistema selvagem, frio, sem sentido e decepcionante. Aliás, cadê o Luan Santana?

As PESSOAS assistem futebol bebendo e criticando aquele jogador que já fez muito pelo time.

As PESSOAS não respeitam, gritam, são autoritárias, humilham umas as outras sem piedade, “pisam na cabeça” em troca de fama e dinheiro.

As PESSOAS ligam a televisão e acreditam em tudo que ouvem.

As PESSOAS compram em dez vezes.

As PESSOAS matam por um boné.

As PESSOAS recebem as passagens antecipadas no novo emprego e preferem sumir com os 40 reais a tentar fazer uma carreira.

As PESSOAS transam em troca de um vale transporte.

As PESSOAS preferem não ter dentes a cuidar deles.

As PESSOAS dormem suadas.

As PESSOAS preferem filmes com informações prontas a filmes que exigem raciocínio para compreensão.

As PESSOAS esperam um fim nos filmes, estilo novela das oito. O fulaninho acabou com a fulaninha, a vilã morreu em uma explosão.

As PESSOAS preferem trabalhar a estudar.

As PESSOAS votam no candidato mais bonito, no que fala melhor, no que aparece mais no Jornal Nacional, no que a Fátima Bernardes entrevista. Usam todos os critérios, menos o certo.

“Não quero ser como vocês, eu não preciso mais”.

PESSOAS me provocam nojo, medo, raiva, revolta, pena e desprezo. Eu sou um animal, um animal contido, ou seja, um neurótico. Um louco, por opção lúcida e consciente, com muito orgulho e prazer. E sem vergonha de dizer.

“Se o mundo é, mesmo, parecido com o que vejo, prefiro acreditar no mundo do meu jeito”.

2 comentários:

Anônimo disse...

É melhor não ser ninguém , ironicamente isso não me torna um ser inanimado.

Elaine disse...

Lucas, vc é genial!Seus textos me provocam riso, surpresa, e admiração. Só um adendo - As pessoas ricas e bonitas precisam do Doctor Hollywood e muitos bajuladores... grande abraço.