O músico inglês Roger Waters se apresentará dia 25 de março, domingo, no estádio Beria-Rio, em Porto Alegre. Ele mostrará na capital a turnê que iniciou em 2009, como comemoração dos 40 anos do disco The Wall, de 1979, tocando o disco na íntegra e na ordem original.
The Wall é um disco duplo, conceitual, sobre guerra, problemas da infância e da educação, conflitos existenciais, vazio interior e tijolos. Podemos nos perguntar qual o sentido dos tijolos no meio de todos os outros temas. Waters nunca deu a explicação exata, mas entre todas as opções, a mais aceitável é a exposta pelo filme homônimo, dirigido por Alan Parker , estrelado por Bob Geldoff e produzido pelo próprio Waters. Como o pai do músico foi morto na segunda guerra e recebeu, como “homenagem”, uma sepultura simbólica em seu nome, em um muro, Waters estaria se utilizando de uma metáfora para dizer que seu pai deixou de ser humano para se tornar “just another brick in the wall” (apenas mais um tijolo no muro).
Além disso, os tijolos representam os problemas que enfrentamos. Dessa forma, acabamos construindo um muro ao nosso redor, que nos separa do mundo, deixando-nos isolados. No primeiro disco, o personagem fictício relembra a infância com a ausência do pai, a indiferença da mãe e as humilhações pelas quais passava na escola. Após isso, ele entra em depressão, chegando ao ponto de rejeitar uma bela mulher, destruir a casa na presença dela e se despedir do céu azul, em “Goodbye, blue sky” e do mundo, em “Goodbye, cruel world” (adeus, mundo cruel), a última faixa do primeiro disco.
Somente no segundo disco, ele percebe que já está dentro do muro e se pegunta: “is there anybody out there?” Não há resposta, as memórias da morte do pai e da guerra voltam, até ocorrer a loucura (palavra perfeita para descrever os fenômenos Floydianos) maior. Ele sonha que é um líder nazista, que está raspando todos os pelos do corpo, expulsando negros, judeus, usuários de drogas e homossexuais de um recinto. Após isso, espanca pessoas na rua e é ovacionado por seus adoradores, como um verdadeiro Fuhrer. Na faixa “Stop”, o personagem volta a ter certa lucidez e pede para que tudo pare. Mas não adianta.
Em The Trial (o julgamento), penúltima faixa, ocorre o desfecho da história: “There must have been a door there in the wall when I came in” (tinha que haver uma uma porta lá no muro quando eu entrei). Mas o muro foi contruído pelo próprio prisioneiro narrador e não há mais saída. Dessa forma melancólica, Waters nos tira qualquer esperança de salvação, mas faz questão de nos lembrar, na última faixa, Outside the Wall, que ainda há vida lá fora, apesar de não podermos mais participar dela. Arrependido de ter se fechado para o mundo, o persongem tem seu trágico fim.
É essa história genial, obscura e arrebatadora que faz de The Wall um dos maiores discos da história do Rock’n Roll e um dos marcos da contemporaneidade.
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