A
minha loucura
Minha
vida é algo estranho. Não sei se é culpa da época que eu nasci, da minha cidade
natal, das músicas que eu escuto, dos filmes de terror que eu assistia na
infância ou, o que eu acho mais provável, da minha mente doente que veio comigo
sem que eu pudesse escolher uma mais normal. Ela veio assim ou transformou-se?
Mas,
baseado nesse primeiro parágrafo sem sentido, resolvi escrever palavras e
frases soltas que só terão sentido para mim. Ou não?
Comecei
a viver dentro de uma bola, em pequenos círculos brancos e macios, quando tinha
de nove para dez anos. Os primeiros amigos mais velhos, a inversão de valores.
Aprendi, desde sempre, que era errado jogar futebol sem calçado, pois eu
machucaria meus pés e também sempre ouvi que era bacana ser “amigo de verdade,
companheiro”. Lá, quando eu dizia que iria colocar tênis ou quando abraçava um
amigo, era chamado de “viadinho”. Não sei se quero que meus filhos sejam
chamados de viadinho. Mas meus pés estão bem inteiros e cresci sabendo o que é uma
amizade verdadeira. Certamente valeu a pena ter sido chamado disso.
Na
escola, apesar de ter convivido muito mais com pessoas diferentes do que com
pessoas parecidas comigo, me saí bem. Mantive meus princípios, na maioria das
vezes, apesar de ter seguido algumas modas. Mas realmente não acho que ter
usado boné laranja durante alguns meses, gel no cabelo por uns dois anos e
calça larga por uns três, tenha sido desvio de caráter. Normal para um guri de quinze, dezesseis anos.
This is the end, my only friend the end. The west is
the best, Get here and We’ll do the rest. The blue bus is calling us... Qual
será esse ônibus azul? O Jim também não sabe. Mas eu sigo tentando
explicar o que o Morrison tem a ver com isso tudo. A revolta silenciosa. Vocês
já perceberam que quando ele pulava no palco, parecia que ele iria gritar mais,
bater em alguém, mas caia mudo, de cabeça baixa? Isso quer dizer muito. “Eu sei
que está tudo errado, já fiz minha parte, agora é com vocês”. “Come on, baby, take a chance with us”. Ok. Alguém se
arriscou? Muito poucos. É, James Douglas, é uma pena que tu tenhas
ido tão cedo, pois teus substitutos passaram longe da tua inteligência e
atitude.
Mas,
hoje, passo por uma fase mais tranquila. Sinto
Sinto que estou a caminho de conseguir o que eu quero, mesmo que não
saiba exatamente o que é. A bolsa na PUC foi a única garantia de felicidade da
minha vida. Todas as outras conquistas e mudanças me pareceram ter mais pontos
negativos que positivos.
Dou
graças a Deus pelos meus pais serem meus pais. Fiquei um ano e meio dançando
dentro de garrafões de vinho ou de garrafas de cachaça barata, sem que eles
cortassem minha alegria. Vivi com dez reais por semana nesse período e ainda o
considero o segundo melhor da minha existência, depois do atual. O gosto da
irresponsabilidade é o melhor de todos. A liberdade de pensar, fazer, escutar,
assistir o que quiser é fascinante. A minha liberdade só acabava na hora das
refeições, que eu tinha que fazer na mesma hora de toda a família. E como foi
bom. Se na época eu já valorizava, agora ainda mais. “Luquinhas, acorda, o
almoço está na mesa.” Devo grande parte da minha vontade de viver e até de quem
eu sou atualmente a esse pequeno detalhe. Uma refeição com todos em volta da
mesa vale mais do que toda a riqueza do Planeta. O maior prazer do mundo é
poder não fazer aquilo que não se quer, de forma alguma. Dormi até o meio-dia,
joguei futebol, saí em todos os horários possíveis, com todos os tipos de
pessoas possíveis, bebi, ouvi o Made in Brazil cantar “vivemos o dia de hoje
sem pensar no amanhã” e eu, realmente, coloquei isso em prática. E viva o Rock’n
Roll.
Agora
estou tentado viver minha loucura, dentro do possível, sem sair da vida, sem
fugir da responsabilidade. Estudar e trabalhar não é fácil.
Hoje
assisti ao filme “Down by Law”. É Demais. Trata exatamente dessa loucura, desse
estilo de vida inconseqüente. Mostra também a diferença que faz uma pessoa bem
humorada e, às vezes, idiota, em um momento de dificuldade.
Os
trouxas, os bobalhões, as pessoas fora da realidade, aquelas que riem de tudo,
são os verdadeiros salvadores da humanidade. O personagem Bob, vivido de forma
mágica pelo Roberto Benigni, é mais um daqueles que vão me fazer pensar para o
resto da vida. “I scream. You
scream. We all scream for Ice-cream”.
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