Eu vivo em
constante exercício de auto-conhecimento. Para isso, preciso refletir muito,
conhecer muitas coisas, ter experiências novas para saber como vou reagir
diante delas e ficar sozinho por bastante tempo. Eu sinto quando as pessoas que
eu gosto estão tristes, sem que elas falem. Certa vez, um grande amigo meu
voltou calado da sala de aula e eu identifiquei o abalo dele antes mesmo que eu
soubesse do problema que ele enfrentara na aula.
Prefiro estar
por baixo a estar por cima. Sinto-me mais feliz e mais humano quando sou o
único a não saber algo do que quando sou o único a saber. A sensação do “não
sei” é fantástica, pois ela abre portas e nos possibilita ir adiante para que
possamos evoluir. Quem sabe tudo já pode morrer, visto que não precisa conhecer
mais nada, ou seja, não necessita mais viver. Eu sempre observo a grande
batalha que as pessoas travam pelo poder e me entristeço, porque sei que quando
elas alcançarem o objetivo perceberão que “aquilo” não traz a felicidade
esperada. Mais uma vez a recorrente decepção, a “personagem” principal da vida.
Quero chegar à
velhice com um conhecimento enorme sobre a vida, sobre mim mesmo e,
especialmente, sobre as pessoas em geral. Por mais que esse pensamento vá totalmente
contra a profissão que quero seguir, eu realmente acho que um ser humano pode,
sim, ser extremamente feliz sem saber o nome do presidente do seu país e sem
saber escrever nem ler. O importante para a verdadeira satisfação é saber
“escutar“ o próprio coração e conseguir manter uma relação sadia com as pessoas
a sua volta, ouvindo-as e prestando atenção nas suas opiniões e anseios.
Teorias
políticas, debates esportivos, programas de entretenimento e filmes que não
fazem pensar tiram o foco daquilo que deveria ser a obsessão do ser humano; seu
próprio eu, suas emoções e suas angústias. Uma conversa olho no olho com um
amigo de infância vale mais que mil “conversas” através do facebook.
Por que eu vou
para casa? Por que eu trabalho? Por que eu compro CDs e DVDs? Por que eu bebo
aos finais de semana? Por que eu vou ao Laika ou ao Beco? Por que eu gosto de
futebol? Por que eu escuto The Doors, Beatles e Raul Seixas há tanto tempo e
nunca enjoo? Pergunto-me sobre mim mesmo o tempo todo.
Por que eu
dizia que odiava samba e agora estou exageradamente fã do Jorge Ben? “Balança,
Pema. Balança sem parar. Arrasta as sandálias. Arrasta até gastar”. Que ligação
essa frase tem comigo? Nunca sambei, nunca arrastei as sandálias. Aliás, nunca
cheguei sequer a usá-las. Será um desejo oprimido, de morar no Rio de Janeiro e
ir para a Lapa sambar em vez de sair para escutar The Stooges, AC/DC e Sex
Pistols no Laika?
Por que eu
gosto tanto da França? A seleção da Copa do Mundo de 1998 era simpática, mas
esse não é um bom motivo, uma vez que futebol é um simples entretenimento na
minha vida e definitivamente não influencia na minha personalidade. Ainda não
concluí, mas acredito que seja pelo meu fascínio pela revolução francesa, por
todo o histórico de greves dos trabalhadores do país, do Maio de 68 e,
finalmente, pela França ter sido berço do movimento cinematográfico que mais me
encanta; a Nouvelle Vague.
O cinema, sim,
altera de forma arrebatadora minha mente. A vontade que tinham os realizadores
Jean-Luc Godard e François Truffaut, os mentores da Nouvelle Vague, de fazer um
cinema diferente de Hollywood, com trilha sonora menos dramática e mais
provocativa, com atrizes nem sempre arrumadas e heróis um tanto quanto
confusos, não com a personalidade previsível no padrão norteamericano pós-guerra.
Era a França demonstrando ser um país com personalidade. Após ser devastada
pelos nazistas, tentava fugir das determinações do único verdadeiro vencedor da
Segunda Guerra.
Por que me
mudei de Cachoeira do Sul, se sou tão apegado aos meus pais? Talvez seja para
me sentir, de forma mais intensa, fazendo “parte da história do mundo”, uma vez
que ocorreram mais fatos importantes para a humanidade em Porto Alegre do que
na minha querida cidade natal. A tentativa de tentar entender o porquê de todas
as minhas paixões e preferências é uma das formas menos falíveis de atingir meu
tão sonhado auto-conhecimento. Esse sonho faz parte do projeto de vida de um
cara extraordinariamente sensível, que prefere sentir a pensar.
Meu coração
está dizendo que Taj Mahal é a trilha perfeita para ler ou escrever esse texto. O novo desafio
é compreender por que. É exatamente dessa forma que eu vivo. Estou sempre
atento aos meus sentimentos e depois tento entendê-los.
Dêde Dederedê.
Dêde Dederedê.
Dêde Dederedê.
Dêde Dederedê.
Taj Mahal...
Dêde Dederedê.
Dêde Dederedê.
Dêde Dederedê.
Dêde Dederedê.
Taj Mahal...
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