Assim
como eu tento ser autêntico em todas as situações, Jean-Luc Godard
foi no início de sua carreira. Ele subverteu várias regras de
roteiro em Acossado, assim como eu busco fazer com as atitudes
previsíveis dos relacionamentos no dia a dia. A vontade de “fazer
o que ainda não tinha sido feito” é fascinante e desafiante,
principalmente quando aplicada na fila do pão, na espera pelo
ônibus, na rotina de um órgão público. O céu está ficando
azulzinho, assim como um terço da bandeira francesa. Está passando
da hora de dormir.
Heroin
me traz de volta para a emoção da noite, apesar da falta de luz já
estar “resolvida” e o coração já estar se conformando com a
tristeza do sono. Por mais que eu tente, não consigo ficar sem
dormir. Isso é triste. Sete, oito, nove horas desperdiçadas em nome
de um repouso, de um pedaço de morte, de uma depressão. Acordar,
comer, estudar, comer, trabalhar, comer e dormir me tornam totalmente
medíocre e decepcionado comigo mesmo, pois eu sonhava ser um Jim
Morrison dos pampas.
Eu
tento viver de uma maneira diferente, mas as obrigações diárias me
impedem, me trazem de volta para a tortura da vida. Da mesma forma, O
Lou Reed tenta viajar comigo em uma utopia de noite eterna, mas o sol
fatalmente invade minha casa, me obrigando a franzir a testa. Eu
sofro dos mesmos males que Porto Alegre. Percebo aqui minha ligação
eterna com essa cidade, como a contradição que sou. Rock’n roll
misturado com complexo de inferioridade com relação ao centro do
país e uma arrogância inata, um nariz empinado. A suposta
inferioridade nos torna diferente. E o fato de não ser igual nos
eleva a outro nível.
E a
guitarra sessentista segue, não consigo resistir a ela. Prefiro sonhar
sem realizar a não desejar nada. Inevitável luz do dia. Maldita.
Insuperável Velvet Underground. Esperanças eternas de felicidade.
Deixe-me sem comer, mas não leve meu “disco da banana”.
Jornalista idealista morre sufocado por emoções que nunca
existiram. Sim, a vida é decepcionante.
Um comentário:
Eu sonhava em ser alguém que nunca existiu, viver da minha arte, seguir a minha filosofia... mas ultimamente a maioria dos meus dias, os da maior parte dos momentos dos meus dias, são decepcionantes mesmo. Me sito só mais uma na multidão quando acordo, tenho que comer, tomar banho e ir trabalhar. Seis horas chatíssimas que penso que me ajudarão a pagar um cursinho para voltar à universidade e quem sabe ser aquilo que eu sempre quis ser, seja lá o que/quem seja esse alguém, porque com certeza essa que vos escreve não é quem sou e quem quero ser, e talvez eu possa morrer amanhã ou depois sem ao menos ter sido... todos podemos.
Me identifiquei tanto com esse texto, acabei escrevendo outro ao invés de fazer um comentário sucinto. :P
Continue escrevendo Luc, sério.
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