Helder da Silva Moura, paulistano, 24
anos, é sub-gerente da Livraria Saraiva do Barra Shopping Sul, em Porto Alegre.
Antes de ser promovido, há um ano, brincava e conversava com todos e era o primeiro
a fazer amizade com os colegas novos. Agora segue sendo querido, apesar da
obrigação de ser enérgico na coordenação dos trinta e três funcionários.
Ele é o homem de confiança da gerente e conta
com a simpatia da supervisora. Nem mesmo Nei, lateral campeão da Libertadores
pelo Internacional, resistiu ao carisma dele.
Desde o dia em que o jogador recebeu o primeiro atendimento de Helder, os dois
tornaram-se grandes amigos e, pouco tempo depois, confidentes.
Muitos já ouviram as sábias dicas
amorosas do chefe e frequentemente o elogiam nas redes sociais. “O Helder é o
melhor conselheiro”, disse a funcionária Kamila Carvalho, certa vez, em um site
de relacionamentos. Ao escolher a pessoa mais confiável dentre todos seus
contatos, Kamila Moura também optou pelo paulista.
Leva nos braços a tatuagem dos
autógrafos do guitarrista Dean DeLeo e do baixista Robert DeLeo, integrantes da
banda Stone Temple Pilots, que é sua favorita. Corintiano fanático, está
extremamente contente com os resultados de 2012; seu time campeão da América e
o rival, Palmeiras, rebaixado à segunda divisão.
Agradando
sem esforço
Helder jamais perde a oportunidade de
fazer piada com alguém, está sempre atento para ser o primeiro a vaiar os erros
de português, as gagueiras e os escorregões, mesmo sabendo que isso pode
ofender. Ontem, Pedro Gomes falhou na pronúncia do nome de um filme e foi
corrigido sem piedade. Minutos depois, os dois riam da situação.
Não
há reclamações do chefe, apesar de sua “chatice”, somente uma grande vontade de
auxiliá-lo, para que siga no cargo. O talento de liderar de forma natural, a despreocupação
em agradar e a permanente ironia são os motivos que o tornam tão especial. Ele reage
de forma humilde e tranquila aos elogios, sem deixar de ser o piadista, crítico
implacável e grande parceiro de sempre. Todos adoram.
Dê um play para que a leitura flua de forma mais natural.
Eu vivo em
constante exercício de auto-conhecimento. Para isso, preciso refletir muito,
conhecer muitas coisas, ter experiências novas para saber como vou reagir
diante delas e ficar sozinho por bastante tempo. Eu sinto quando as pessoas que
eu gosto estão tristes, sem que elas falem. Certa vez, um grande amigo meu
voltou calado da sala de aula e eu identifiquei o abalo dele antes mesmo que eu
soubesse do problema que ele enfrentara na aula.
Prefiro estar
por baixo a estar por cima. Sinto-me mais feliz e mais humano quando sou o
único a não saber algo do que quando sou o único a saber. A sensação do “não
sei” é fantástica, pois ela abre portas e nos possibilita ir adiante para que
possamos evoluir. Quem sabe tudo já pode morrer, visto que não precisa conhecer
mais nada, ou seja, não necessita mais viver. Eu sempre observo a grande
batalha que as pessoas travam pelo poder e me entristeço, porque sei que quando
elas alcançarem o objetivo perceberão que “aquilo” não traz a felicidade
esperada. Mais uma vez a recorrente decepção, a “personagem” principal da vida.
Quero chegar à
velhice com um conhecimento enorme sobre a vida, sobre mim mesmo e,
especialmente, sobre as pessoas em geral. Por mais que esse pensamento vá totalmente
contra a profissão que quero seguir, eu realmente acho que um ser humano pode,
sim, ser extremamente feliz sem saber o nome do presidente do seu país e sem
saber escrever nem ler. O importante para a verdadeira satisfação é saber
“escutar“ o próprio coração e conseguir manter uma relação sadia com as pessoas
a sua volta, ouvindo-as e prestando atenção nas suas opiniões e anseios.
Teorias
políticas, debates esportivos, programas de entretenimento e filmes que não
fazem pensar tiram o foco daquilo que deveria ser a obsessão do ser humano; seu
próprio eu, suas emoções e suas angústias. Uma conversa olho no olho com um
amigo de infância vale mais que mil “conversas” através do facebook.
Por que eu vou
para casa? Por que eu trabalho? Por que eu compro CDs e DVDs? Por que eu bebo
aos finais de semana? Por que eu vou ao Laika ou ao Beco? Por que eu gosto de
futebol? Por que eu escuto The Doors, Beatles e Raul Seixas há tanto tempo e
nunca enjoo? Pergunto-me sobre mim mesmo o tempo todo.
Por que eu
dizia que odiava samba e agora estou exageradamente fã do Jorge Ben? “Balança,
Pema. Balança sem parar. Arrasta as sandálias. Arrasta até gastar”. Que ligação
essa frase tem comigo? Nunca sambei, nunca arrastei as sandálias. Aliás, nunca
cheguei sequer a usá-las. Será um desejo oprimido, de morar no Rio de Janeiro e
ir para a Lapa sambar em vez de sair para escutar The Stooges, AC/DC e Sex
Pistols no Laika?
Por que eu
gosto tanto da França? A seleção da Copa do Mundo de 1998 era simpática, mas
esse não é um bom motivo, uma vez que futebol é um simples entretenimento na
minha vida e definitivamente não influencia na minha personalidade. Ainda não
concluí, mas acredito que seja pelo meu fascínio pela revolução francesa, por
todo o histórico de greves dos trabalhadores do país, do Maio de 68 e,
finalmente, pela França ter sido berço do movimento cinematográfico que mais me
encanta; a Nouvelle Vague.
O cinema, sim,
altera de forma arrebatadora minha mente. A vontade que tinham os realizadores
Jean-Luc Godard e François Truffaut, os mentores da Nouvelle Vague, de fazer um
cinema diferente de Hollywood, com trilha sonora menos dramática e mais
provocativa, com atrizes nem sempre arrumadas e heróis um tanto quanto
confusos, não com a personalidade previsível no padrão norteamericano pós-guerra.
Era a França demonstrando ser um país com personalidade. Após ser devastada
pelos nazistas, tentava fugir das determinações do único verdadeiro vencedor da
Segunda Guerra.
Por que me
mudei de Cachoeira do Sul, se sou tão apegado aos meus pais? Talvez seja para
me sentir, de forma mais intensa, fazendo “parte da história do mundo”, uma vez
que ocorreram mais fatos importantes para a humanidade em Porto Alegre do que
na minha querida cidade natal. A tentativa de tentar entender o porquê de todas
as minhas paixões e preferências é uma das formas menos falíveis de atingir meu
tão sonhado auto-conhecimento. Esse sonho faz parte do projeto de vida de um
cara extraordinariamente sensível, que prefere sentir a pensar.
Meu coração
está dizendo que Taj Mahal é a trilha perfeita para ler ou escrever esse texto. O novo desafio
é compreender por que. É exatamente dessa forma que eu vivo. Estou sempre
atento aos meus sentimentos e depois tento entendê-los.
Ele a convidou para sair depois de
pensar mil vezes.
Ela nem precisou pensar antes de não
aceitar.
Ele tinha pés no chão.
Ela era incrivelmente indecisa.
Ele é inseguro.
Ela, misteriosa e espontânea.
Ele disse te quero.
Ela não disse nada.
Ele pediu desculpas por ter sido
homem.
Ela aceitou as desculpas.
Ela significava muito para ele.
Ele era somente mais um amigo dela.
Agora, Ele não diz mais nada.
Ela não move os lábios, mas segue
dizendo “não” através dos seus olhos, que, segundo Ele, são os mais lindos do
mundo.
Segunda Possibilidade
Quando Ele desperta pela manhã, antes
de pensar que gostaria que Ela estivesse acordando ao lado dele, tenta imaginar
como Ela passou a noite, se esteve bem aquecida e confortável durante seu sono.
Enquanto Ele se arruma para sair pela
manhã, além de querer encontrá-la, pergunta-se se o café dela está quente
naquele momento.
Durante a viagem, no ônibus, angustia-se
ao pensar que talvez Ela ainda esteja esperando na parada, há quilômetros dali,
passando frio enquanto seus lindos cabelos longos são levados de um lado para o
outro pelo vento.
Ele vê várias pessoas bonitas, mas
nenhuma com o estilo, com a magia e com o brilho que se juntam à beleza dela,
transformando-a em uma mulher insuperável.
Na hora do almoço, a mente dele ainda não
esquece que está longe dela, pois a cada garfada que Ele leva à boca, torce
para que Ela também esteja se alimentando bem e, dessa forma, Ela segue
“presente” o tempo todo de forma emocionante no dia dele.
Segue o dia e a dúvida de onde Ela
está naquele momento incomoda Ele profundamente.
Ela está ali ao lado dele pensando que
está vendo Ele pela primeira vez no dia, mas Ela nem sequer imagina que
acompanhou Ele desde o primeiro suspiro dele pela manhã.
Ele diz “boa noite”, mas não ouve
resposta.
Ela não está lá.
O desespero de alguns segundos é
substituído pela eterna angústia de saber se ela está bem.
Terceira possibilidade
Essa última possibilidade talvez
pareça estranha, mas é a mais aceitável e compreensível.
Aqui, eles não se conhecem.
O belo rosto dela não existe. É
simplesmente tudo que ele espera da vida. Mas como já discutimos aqui, a vida é
decepcionante, logo, “tudo que ele espera da vida” nunca vai acontecer.
Finalmente, concluímos que se ela é tudo que ele espera da vida e que isso
nunca vai acontecer, ela não existe, uma vez que aquilo que nunca vai acontecer
não existe nem nunca vai existir.
Ela é a imagem que ele criou de uma
pessoa que preenche todas as faltas dele, mas a relação dos sonhos nunca foi
vivida por ninguém.
Ele fica sentado na frente da casa
pensando nela.
Ele vê uma esperança e pensa em todas
as palavras que poderia ter dito para ela na primeira vez que ficou com vontade
de tocar no rosto dela.
Ele vive pensando.
Ela vive.
Questionável é a atitude contraditória
dele, de ter preenchido através de uma rede social os dados de cadastramento na
lista de trouxas, não à mão, como ele tanto defende que todos façam.
Depois de tantas possibilidades
levantadas, chegamos à mesma triste e
dura, mas óbvia, conclusão; o amor não existe. Claro que ele se manifesta
perigosamente belo nos livros, nas músicas, nos filmes e nas mentes fracas, que acabam sendo
facilmente enganadas por uma patética esperança de “felicidade” e satisfação
física e espiritual.
Eis mais um argumento poderoso na
grande discussão sobre esse sentimento que só existe, de fato, entre amigos,
parentes, pais, mães e filhos. Nunca entre duas pessoas que só querem sexo e
realização pessoal em uma relação.
Em um próximo momento, Schopenhauer
voltará a me apoiar nessa grande guerra contra esse engano eterno.
Tristeza
é não ter o que fazer, estar sem reação. Quando estamos tristes, não pensamos
em nada que possa ser feito. Não há nada para ser feito.
Estou
vivo, mas não há motivos.
Tristeza
é ficar sem chão. Não ter raiva, nem medo, só falta de vontade de fazer
qualquer coisa. Ficar somente olhando para a parede e pensando em quando havia
algo de bom para ser feito.
Não
saber para que comer, beber, caminhar, comprar, vender, estudar, fumar, ler,
assistir, conversar, matar socializar. Dormir, sim, isso causa muita
empolgação. Acordar, talvez não.
Injustiça não existe. O que está aí é imutável, já estava
determinado.
Tristeza
é não ter expectativa e, a cima de tudo, falta de vontade de tê-la.
Eu faço: massa com coração, pimentão, cebola e tomate.
Eu quero: beijá-la e passar a mão no rosto dela.
Tentando responder essas perguntas acima, fico pensando que o conjunto de todas as respostas formam o “Lucas.”
Uma pessoa não é formada de uma só informação, de uma única opinião. A minha vida sou eu e todas essas respostas. Ou seja, se eu estou triste, esse sentimento faz parte da minha vida e, consequentemente, a tristeza sou eu.
De agora em diante, não podemos mais desvincular a atitude de alguém de sua personalidade.
Quando estou triste, gosto de cultivar a minha tristeza. Vou além, amando-a e respeitando-a até que a notícia boa nos separe. Se a tristeza faz parte da minha vida, eu estaria consequentemente me odiando se a odiasse.
Sentar, dialogar com a amiga tristeza, tentar compreendê-la e abraçá-la, ao invés de combatê-la. Dessa forma estaremos respeitando a nós mesmos.
Quem gosta de mim, consequentemente gosta da minha lerdeza,da minha discografia do The Doors e da minha tristeza, uma vez que isso tudo sou EU. E pronto. Se não fosse assim, gostaríamos de animais de carne e osso interpretando personagens, não de UMA PESSOA ÚNICA e diferente de todas as outras. Observemos bem, utilizei-me como exemplo, mas todos são únicos.
Se um grande amigo meu fizer algo que eu desaprovo, não vou deixar de ser amigo dele, por mais grave que tenha sida o seu ato.
Se eu convivi com alguém por determinado tempo, considerando-o meu amigo, a pessoa passou a fazer parte da minha história de vida, logo, é parte de mim. Você deixaria de gostar de você mesmo, por algo de errado que fez? Portanto, jamais haverá explicações que justifiquem o abandono de um amigo. Tudo isso é extremamente simples e lógico.
Eu me amo, amarei minha morte, minhas dores, meus sofrimentos e minhas alegrias.
Chuck Berry, Arnaldo Baptista, Jorge Ben, Caetano Veloso,
Billie Hollyday, Syd Barrett, Jimmy Page, Noel Rosa, Pete Townsend, Robert
Johnson, Bob Dylan, Miles Davis, Ludwig
Van Beethoven, Cartola, Luiz Gonzaga, Paul McCartney, Ray Charles, Johnny
Ramone, Bob Marley, Malcolm McLaren, Jimi Hendrix, Tom Jobim, Kurt Cobain,
Wolfgang Amadeus Mozart, Leadbelly.
Charles Chaplin, Jean-Luc Godard, Lumiére, Stanley Kubrick, James
Dean, Ingmar Bergman, François Truffaut, Audrey Hepburn, Sergei Eisenstein,
George Mélies, Alfred Hitchcock, Clint Eastwood, Steven Spielberg, Dziga
Vertov, Woody Allen, Glauber Rocha, Quentin Tarantino, Marlon Brando, Sergio
Leoni.
A partir dessa pequena listagem dos grandes gênios inovadores
das minhas duas maiores paixões, música e cinema, inicio uma tentativa de
explicação para uma sensação que eu chamo de ”fazer parte da história do
mundo”.
Comprei, há alguns dias, o disco Aproveite Agora, da
Comunidade Nin-Jitsu, que fez muito sucesso no seu ano de lançamento, 2003. Se
alguém não lembra, eis a oportunidade:
Essas coisas (sim, porque não tenho coragem de chamar de
música) deixaram marca na minha vida por eu ter assistido ao show de lançamento,
em Cachoeira do Sul, na melhor época da vida, de colégio e festas de
adolescente, mas não fazem “parte da história do mundo”. Morreram e nasceram lá,
em 2003, com suas gírias estranhas e com a sonoridade feita somente para vender
e para ser o hit do verão. (Aliás, alguém ainda lembra da Musa do Verão, do
Felipe Dylon?)
Assistindo a Tempos Modernos, de Charles Chaplin, por
exemplo, nos sentimos ”fazendo parte da história do mundo”, visto que
percebemos uma indignação com a Revolução Industrial, que ocorrera cinqüenta
anos antes do filme e influenciaria todas as vidas até hoje, com a troca das
pessoas pelas máquinas. A prova de que Charles Chaplin é atual acontece quando
ligamos para uma loja, por exemplo, e somos atendidos por aquela maldita
“secretária” eletrônica. A angústia sentida pelo simpático vagabundo ao
parafusar repetidamente é a mesma que sentimos quando não conseguimos sacar
dinheiro em um caixa eletrônico por ele estar estragado. Eu tenho saldo na
conta, pois trabalhei para isso, mas a minha grana está trancada naquela
maldita máquina, que nos distancia da nossa condição humana.
Por sentir essa necessidade de ”fazer parte da história do
mundo” é que prefiro ouvir Chuck Berry e
Tom Jobim a Michel Teló e Jason Mraz. Pelo mesmo motivo opto por assistir ao
Encouraçado Potemkin, do gênio russo Sergei Eisenstein e não à Última Música ou
à Trair e Coçar é só começar. O primeiro tem seu roteiro até hoje reconhecido
como revolucionário. Já o os outros dois, serão esquecidos dentro de pouco tempo.
É muito importante lembrar que, talvez, se eu assistir a
’Última Música’ ou ‘Trair e Coçar é só começar’ eu me divirta mais do que
contemplando a beleza do Potenkim de Eisenstein, mas a velha e boa necesssidade
de ”fazer parte da história do mundo” me gratifica depois. Eu não sou o cara do
“hoje”, mas o do “sempre”. Em 1925, um cara que, anos atrás, defendera a Rússia
na primeira guerra mundial no navio chamado Encouraçado Potenkin, fez um filme
sobre seu tempo de batalha naquele lugar. Observe que fantástica oportunidade
de sentirmos a emoção e terrores os da guerra.
Guerra, que mudou os rumos do século XX, no qual nasci e vivi
por treze anos. Por que diabos eu vou
curtir algo vazio que só vai me dar duas horas de diversão e amanhã será
esquecido por mim e por todo mundo?
Os primeiros minutos de Bonequinha de Luxo, se assistidos com
atenção, mostram esse mundo através da personalidade anárquica e desapegada de
Holly Golightly.
Não consegui encontrar o início do filme para mostrar aqui, mas vale a pena ver as melhores frases:
É exatamente por isso que me obrigo a ir a shows de artistas
como o Pearl Jam. Quantas pessoas que passaram pela minha vida que usavam
camisa xadrez e tênis All Star? Essa pergunta não parava de vir à minha cabeça
desde o dia em que fiquei sabendo que Eddie Vedder e companhia se apresentariam em
Porto Alegre. O mundo é muito maior que eu, portanto, o simples mortal que sou,
com consciência de toda a grandiosidade representada pela banda, foi obrigado a
ir ao espetáculo. Exatamente pela necessidade que tenho de ”fazer parte da história
do mundo”.
É preciso explicar que há dois tipos de obras cinematográficas
e musicais que nos levam a sentir ”fazendo parte da história do mundo”. A primeira
são casos como a Bonequinha de Luxo, que retrata, através da personagem de
Audrey Hepburn, o ser humano contemporâneo exatamente como ele é, inseguro e
livre devido à sua solidão, que, no final, acaba por aprisioná-lo e destruí-lo;
já o segundo, são aquelas obras legitimadas pelo tempo, como os dois primeiros
filmes da trilogia do Poderoso Chefão ou o Led Zeppelin, que tinham tudo para
ficarem esquecidos na década de 70, mas seguem sendo cultuados.
Eu não sou ninguém. Ao mesmo tempo, sou o mundo e,
consequentemente, sou todas AS PESSOAS, assim como todas AS PESSOAS são eu. Como
eu sou o mundo, concluo que preciso o observar de forma extremamente crítica e
criativa, para aprender a viver melhor. Eis que assim o faço, mais uma vez.
Por favor, nada pessoal contra quem assiste aos
filmes ou escuta as músicas que não “fazem parte da história do mundo”. Aqui,
exponho a necessidade que sinto de “fazer parte da história do mundo” e não
faço nada além de tentar explicar o que seria isso.
Nós, profissionais da comunicação,
precisamos agir com muito esmero quando tratamos de assuntos que envolvem um
grande público. Temos a obrigação de tentar pensar além da nossa realidade;
entender que a maioria esmagadora das pessoas ainda não têm acesso aos nossos tablets, iPhones, etc.
Quando o professor diz em aula que a Zero Hora não traz nada na versão impressa que ainda não tenha sido noticiado no site no dia
anterior, deixa entendido que o jornal tradicional está perdendo a utilidade.
Dessa forma, ele está esquecendo de pessoas como Scheila Gonçalves, caixa de
uma conhecida rede de supermercados da região central de Porto Alegre. Ela
trabalha das 13h30 às 22h30 e conta que tem como única forma de informação os
jornais disponíveis no refeitório, durante seu intervalo. A moça só tem acesso
a internet na casa de amigas, além de só conseguir fazer visitas no dia da sua
folga semanal e aproveitar a oportunidade para atualizar seu facebook e seu orkut, em vez de acessar sites
jornalísticos.
João Batista, porteiro noturmo de um
grande condomínio do centro da cidade, atuando das 18h às 6h, afirma: “por mais que
digam, hoje em dia, que todo mundo tem internet, isso não é verdade”. Ele diz
que o jornal sim, passa por todo mundo, até o morador de rua pode vir a se
informar através dele. O profissional também conta que lê vários jornais
diariamente e garante que só usa os sites
como auxiliares, quando fica com “alguma dúvida” a respeito do que leu. “O
jornal impresso ainda é o mais importante, tem caráter oficial, tem mais
credibilidade”, conclui João.
“Eu me informo nas duas mídias e não
acho que uma substitua a outra”, afirma Joana Sousa, funcionária de uma
farmácia do bairro Cidade Baixa, referindo-se à web e ao jornal tradicional. Já o seu gerente, Luiz Carlos, diz
que, apesar de gostar de ler impressos, acredita que eles estejam com os dias
contados. “Acho que vai acabar ficando só a informática”, comenta o
farmacêutico.
O Jornal do Povo, de Cachoeira de Sul,
tem um projeto chamado “JP na Sala de Aula”, no qual os professores da rede
municipal levam jornais à escola, para que cada aluno recorte a notícia que
mais o chamou atenção e comente. Seria mais educativo selecionar e imprimir?
Mandar por e-mail para a professora o texto escolhido e o comentário acrescentaria ao aprendizado?
Para finalizar, conversamos com Darci
Marcelo, portoalegrense que está passando vinte dias em Passo Fundo, a
trabalho. Ele assina a Zero Hora e está sentindo falta da sua leitura diária.
Inclusive, ligou para seu sobrinho, há poucos dias, solicitando que ele
guardasse a página da coluna de Paulo Sant`ana, que acabara de ler no site.
“Quero guardar para ler várias vezes, tenho uma pasta cheia de recortes há mais
de vinte anos”, conta orgulhoso. Ele termina falando que “não teria a mesma
graça” imprimir o texto do site.
Essas são somente
algumas poucas provas da força do impresso. Atenção, comunicadores. Para enxergarmos,
precisamos observar algo fora do nosso “mundinho pós-moderno” de iPads, iPods e iPhones. O nosso objeto de estudo e discussão deve ser menos a
tecnologia do que o homem, menos a máquina do que aquele que a controla e a
fabrica. Enquanto a tecnologia aumenta e nós a estudamos, há muitos brasileiros
que não sabem ler, independentemente de onde esteja escrito. Existe mundo além
da FAMECOS e das salas de aula bem equipadas e com ar condicionado. Existem
menos pessoas que leem notícias no celular com aplicativos avançadíssimos do
que seres humanos “normais”, assinantes da Zero Hora ou do Correio do Povo,
acostumados a ler pela manhã e seguir a leitura, à noite, esgotados, após mais
um dia difícil de esforço físico e mental.
Mais uma vez, tentarei falar sobre o amor, para provar que ele não existe.
"O amor é o mal", diz o gênio.
Com essa frase, Arthur Schopenhauer mostra a que veio na obra "A arte de lidar com as mulheres".
Aqui, ele defende que o amor é simplesmente uma desculpa da natureza para que a espécie não entre em extinção. Segundo o autor, o que leva dois indivíduos a "se atraírem exclusivamente um pelo outro... é o desejo de vida que se manifesta em toda a espécie".
Ele avança na teoria explicando que é por esse motivo que os casais acabam brigando tanto e se odiando depois de terem cumprido com sua função; a manutenção da espécie. Em suma, depois que a perpetuação da espécie está garantida, o indivíduo percebe que aquilo não era amor, mas sim um impulso instintivo.
"Logo satisfeito o desejo da espécie, a ilusão (no caso, o amor) irá se desvanecer e deixará apenas um (a) companheiro (a) detestável."
O leitor já deve ter percebido que esse tal amor é o assunto preferido dos poetas, dos músicos, dos cineastas e dos artistas em geral. Ora, se o amor é, na verdade, uma imposição da natureza, quando falamos dele estamos tratando de algo transcendental, o que distancia os apaixonados dos assuntos terrenos. Dessa forma, podemos entender porque todos acham que o amor deixa emocionado, distancia da realidade, é emocionante, inumano. Evidentemente que não é, mas também não é poesia, sentimento, mas comprometimento do invidíduo com a natureza.
"O homem tem razão em lutar para econtrar um parceiro. O único erro é pensar que a felicidade tem a ver com isso", diz ele.
Portanto, o amor não existe.
Continuarei nesse tema, pois ainda não estou satisfeito com o resultado.
Como hoje estou completando 25 anos, resolvi relembrar o que algumas pessoas já tinham feito com essa idade.
Para começar com as maiores pessoas que o mundo já conheceu, o meu pai foi o candidato a prefeito mais novo do Brasil em 1982, além de ter fundado o Partido dos Trabalhadores em Cachoeira do Sul anos antes. Com essa idade, ele já era casado com a minha mãe, que, por sua vez, já tinha acabado a faculdade e contribuído com textos para a coletânea "Poetas do Vale" de Cachoeira do Sul.
Fico lembrando que quando os Casacavelettes se separaram, todos os integrantes tinham menos de 25 anos. Ou seja, eles fizeram aquela obras eternas com vinte aninhos, que incrível!
Paul, George, Ringo e John já tinham conquistado o coração do o mundo, Keith Richards e companhia já tinham gravado Satisfaction e Elvis já era o homem mais cobiçado pelas mulheres e o mais imitado pelos homens.
Com 25 anos, Charles Chaplin interpretou pela primeira vez o maior personagem da história do cinema, o"Little Fellow" ou "The tramp", o Carlitos, como ficou conhecido no Brasil.
Pelé já era o rei do futebol após encantar o planeta com seus gols na copa da Suécia e nos mundiais de clubes de 1962 e 1963.
Arthur Schopenhauer fez sua dissertação de doutorado aos 25 anos, com argumentos já avançadíssimos sobre sua pricipal teoria; a de vontade e representação.
Bob Dylan já tinha grravado cinco discos de estúdio, estava preparando seu primeiro ao vivo e até já tinha sido chamado de "Judas" pelos puritanos do folk por ter usado guitarra elétrica.
Roberto Marinho tornou-se editor chefe do jornal O GLOBO com 21 anos.
Aos 25 anos, o genial Orson Welles dirigiu, escreveu e protagonizou "Cidadão Kane", considerado pelo American Film Insitute como o maior filme americano de todos os tempos.
Bom, mas o meu desafio é não deixar isso me abalar. Se ainda não fiz grandes coisas, como as grandes pessoas citadas a cima, preciso me focar e seguir a vida para um dia chegar lá.
Uma das minhas principais preocupações é não me permitir "ser engolido" pelos conceitos e interpretações que acompanham determinados fatores da vida.
Refiro-me, por exemplo, às profissões.
Os conceitos, as expectativas e a simbologia que acompanham as palavras "jornalista", “advogado”, “médico” e “dentista”, por exemplo, são bem maiores e poderosos do que qualquer indivíduo. Assim como a expressão "homem de 25 anos".
Restam duas opções para esse ser humano medíocre; primeira, banalizar-se, a partir do pensamento “sou um médico” ou "tenho 25 anos", passando a agir como tal, baseado na imagem já existente na sociedade, deixando de ser ele mesmo ou então, como segunda opção, pensar muito, livrar-se desses conceitos e viver sua vida normalmente. Dessa vez, sim, como uma pessoa normal, não como um fantoche fantasiado de "pessoa de 25 anos" ou de "profissional da medicina", mas sem uma bagagem emocional para suportar essas responsabilidades.
O importante é seguir vivendo apesar de tudo e com tudo. Eu sou o mesma pessoa que entrou na pré-escola louca para estudar, a mesma que jogava futebol das 15h às 20h e só não virava a noite porque a mãe mandava parar, a mesma que fez de tudo para escapar do exército e conseguiu com a grande ajuda da mesma maravilhosa mãe, a mesma que conseguiu ingressar no jornalismo da PUC após quatro tentativas no ENEM e que hoje completa 25 anos tentando esquecer que é a "metade de 50".
Era Uma Vez em Tóquio ou Contos de Tóquio (Tokyo Story) é um belo filme, feito no distante ano de 1953, por um diretor pouco conhecido pelo grande público, até mesmo na sua época, chamado Yasujiro Ozu. Ele fazia filmes intimistas, sem nenhum apelo comercial e esse foi seu maior êxito, décadas depois reconhecido por críticos como uma obra máxima do cinema. Filmado com â camera no chão para passar a ideia de dia-a dia, Era Uma Vez... nos insere na vida de uma tradicional família japonesa, na qual os filhos saíram da casa dos pais para tentar a vida na cidade grande, no caso, Tóquio.
Em meio à alguns elementos da cultura japonesa e diálogos corriqueiros, tentemos observar a sutileza de
Ozu. Ele nos mostra que a vida é aquilo mesmo: conversas sobre as refeições, a hora de dormir, os gostos das pessoas, lembranças de velhos vizinhos já falecidos. A partir do momento em que somos capturados pela percepção de rotina do diretor, ele nos dá um duro golpe. Já incluídos nela, passamos a perceber quão dura e triste pode ser a vida, quando ela deixa de ser normal.
A morte, os conflitos de gerações e o abandono tomam conta da tela para que a mensagem final nos seja transmitida de forma clara. A personagem mais sonhadora do filme pergunta: "A vida não é decepcionante?". A resposta vem acompanhada de um sorriso: "Sim. Ela é."A conclusão do filme pode ser considerada conformista por aqueles que conseguirem "aguentar" os intermináveis 135 minutos, mas levando em conta todos os aspectos levantados por Yasujiro Ozu, concordaremos com ele.
Quem quiser se arriscar, o filme foi lançado pela Versátil Home Video.
Existe uma propaganda atualmente na qual as pessoas seguram um tablet e falam orgulhosas: "Este é o meu MUNDO", apontando para os seus aparelhos. E eu, ali, sentado, vestindo moleton e calça velhos, em frente a uma simples televisão de 29, me pergunto: "Se o MUNDO delas é um tablet e as informações as quais eles têm acesso por ali, qual será o meu?". Qual será o MUNDO do senhor que fez os lanches que minha mãe, meus irmãos e eu comemos hoje à noite? E o da minha vizinha que passa a tarde sentada na frente da casa? E qual será o MUNDO do rapaz que esses dias veio vender abacates aqui em casa para alimentar seu vício em crack?
Nós não temos mundo porque não temos tablets?
Para os crentes, MUNDO refere-se à comunidade formada por todas as pessoas que não são cristãs. A música popular, por exemplo, é conhecida como "música do MUNDO", essa sendo considerada impura e pecaminosa. Nesse caso, o tablet da moça da propaganda é o pecado dela, a forma de se afastar de Cristo.
Wittgentein considera um "mundo como totalidade dos fatos", que independe da interpretação do homem. Para ele, o MUNDO é uma verdade absoluta. Nesse momento, lembramos mais uma vez da propaganda e concluímos que a moça vive em função daquele aparelho tecnológico, pois ele é seu "fato absoluto". Que mesquinha.
Schopenaheur defende que o MUNDO é criado a partir da representação do indivíduo, ou seja; não há MUNDO antes das pessoas manipularem-no. Pelo princípio de Schopenhauer, a moça quer que seu MUNDO seja daquela forma; cheio de possibilidades, mas solitário, sem emoção e com poucas chances de verdadeira comunicação. Martin Heidegger vai além, considerando impossível conceituar "MUNDO" antes de entender o homem.
"Mundo e homem constituem pressupostos inevitáveis e elementos primordiais para a abordagem metafísica da questão de mundo", afirma ele. O "problema do MUNDO" está eternamente inerente ao indivíduo.
Independentemente de qual dessas ideias de MUNDO acreditamos ou defendemos, em nenhuma delas um tablet pode ser considerado o nosso "MUNDO". O pior é que a maioria esmagadora das PESSOAS considera isso uma evolução. Dessa forma, a humanidade segue a passos largos rumo ao enlouquecimento, ao seu ADMIRÁVEL MUNDO NOVO. O MUNDO dos seres pensantes depende do ser humano e existe em função dele, mas o nosso mundinho atual está transportando-se rápida e perigosamente para dentro de uma tela.
Minha
vida é algo estranho. Não sei se é culpa da época que eu nasci, da minha cidade
natal, das músicas que eu escuto, dos filmes de terror que eu assistia na
infância ou, o que eu acho mais provável, da minha mente doente que veio comigo
sem que eu pudesse escolher uma mais normal. Ela veio assim ou transformou-se?
Mas,
baseado nesse primeiro parágrafo sem sentido, resolvi escrever palavras e
frases soltas que só terão sentido para mim. Ou não?
Comecei
a viver dentro de uma bola, em pequenos círculos brancos e macios, quando tinha
de nove para dez anos. Os primeiros amigos mais velhos, a inversão de valores.
Aprendi, desde sempre, que era errado jogar futebol sem calçado, pois eu
machucaria meus pés e também sempre ouvi que era bacana ser “amigo de verdade,
companheiro”. Lá, quando eu dizia que iria colocar tênis ou quando abraçava um
amigo, era chamado de “viadinho”. Não sei se quero que meus filhos sejam
chamados de viadinho. Mas meus pés estão bem inteiros e cresci sabendo o que é uma
amizade verdadeira. Certamente valeu a pena ter sido chamado disso.
Na
escola, apesar de ter convivido muito mais com pessoas diferentes do que com
pessoas parecidas comigo, me saí bem. Mantive meus princípios, na maioria das
vezes, apesar de ter seguido algumas modas. Mas realmente não acho que ter
usado boné laranja durante alguns meses, gel no cabelo por uns dois anos e
calça larga por uns três, tenha sido desvio de caráter. Normal para um guri de quinze, dezesseis anos.
This is the end, my only friend the end. The west is
the best, Get here and We’ll do the rest. The blue bus is calling us... Qual
será esse ônibus azul? O Jim também não sabe. Mas eu sigo tentando
explicar o que o Morrison tem a ver com isso tudo. A revolta silenciosa. Vocês
já perceberam que quando ele pulava no palco, parecia que ele iria gritar mais,
bater em alguém, mas caia mudo, de cabeça baixa? Isso quer dizer muito. “Eu sei
que está tudo errado, já fiz minha parte, agora é com vocês”. “Come on, baby, take a chance with us”. Ok. Alguém se
arriscou? Muito poucos. É, James Douglas, é uma pena que tu tenhas
ido tão cedo, pois teus substitutos passaram longe da tua inteligência e
atitude.
Mas,
hoje, passo por uma fase mais tranquila. Sinto
Sinto que estou a caminho de conseguir o que eu quero, mesmo que não
saiba exatamente o que é. A bolsa na PUC foi a única garantia de felicidade da
minha vida. Todas as outras conquistas e mudanças me pareceram ter mais pontos
negativos que positivos.
Dou
graças a Deus pelos meus pais serem meus pais. Fiquei um ano e meio dançando
dentro de garrafões de vinho ou de garrafas de cachaça barata, sem que eles
cortassem minha alegria. Vivi com dez reais por semana nesse período e ainda o
considero o segundo melhor da minha existência, depois do atual. O gosto da
irresponsabilidade é o melhor de todos. A liberdade de pensar, fazer, escutar,
assistir o que quiser é fascinante. A minha liberdade só acabava na hora das
refeições, que eu tinha que fazer na mesma hora de toda a família. E como foi
bom. Se na época eu já valorizava, agora ainda mais. “Luquinhas, acorda, o
almoço está na mesa.” Devo grande parte da minha vontade de viver e até de quem
eu sou atualmente a esse pequeno detalhe. Uma refeição com todos em volta da
mesa vale mais do que toda a riqueza do Planeta. O maior prazer do mundo é
poder não fazer aquilo que não se quer, de forma alguma. Dormi até o meio-dia,
joguei futebol, saí em todos os horários possíveis, com todos os tipos de
pessoas possíveis, bebi, ouvi o Made in Brazil cantar “vivemos o dia de hoje
sem pensar no amanhã” e eu, realmente, coloquei isso em prática. E viva o Rock’n
Roll.
Agora
estou tentado viver minha loucura, dentro do possível, sem sair da vida, sem
fugir da responsabilidade. Estudar e trabalhar não é fácil.
Hoje
assisti ao filme “Down by Law”. É Demais. Trata exatamente dessa loucura, desse
estilo de vida inconseqüente. Mostra também a diferença que faz uma pessoa bem
humorada e, às vezes, idiota, em um momento de dificuldade.
Os
trouxas, os bobalhões, as pessoas fora da realidade, aquelas que riem de tudo,
são os verdadeiros salvadores da humanidade. O personagem Bob, vivido de forma
mágica pelo Roberto Benigni, é mais um daqueles que vão me fazer pensar para o
resto da vida. “I scream. You
scream. We all scream for Ice-cream”.
A
realidade é fabricada por vários aspectos. Cada pessoa, com sua
subjetividade, cria sua própria e ajuda a criar a daqueles com os
quais convive.
Questiono
muito é a realidade geral, as convenções, os acordos tácitos da
sociedade, o considerado normal por todas AS PESSOAS.
Mas
vou tentar discutir aqui como se formou essa realidade, quem deu ao
“bolo” o seu nome. E o cake? Objetivo refletir sobre o fenômeno
que ocorre na nossa mente quando ouvimos a palavra “bolo”. O que
imaginamos? (não siga a leitura antes de tentar lembrar que jeito
era o bolo que você imaginou). De onde vem esse bolo? Se cada um
pode imagiar um bolo diferente, a realidade não existe. Se ela não
existe em discussões supérfluas como essa, porque um fato ou uma
verdade vão ter uma versão só? Se a realidade não existe de forma
absoluta, quem somos nós? Enquanto você está lendo, lembra de mim
como? Imagina eu escrevendo em que situação? Em que tipo de
computador? Com que roupa? Ok, cada pessoa vai imaginar de um jeito,
então qual desses que eu sou? Eu não sou nada. Isso tudo é apenas
mais uma forma de ver a frase do meu grande ídolo:
“Não
existe o céu e nem a terra, mas mãos que tocam a terra e olhos que
veem o sol”, Arthur Schopenhauer.
Ele
nos diz que, por exemplo, a mata mais remota do planeta, que nunca
foi habitada e nem visitada por um ser humano, ainda não existe,
visto que não faz diferença o que está lá, se não for tocado,
manipulado por um homem. É o mundo como vontade e representação,
como eu desejo ver o sol e como eu quero que ele seja. Esse “quero”
não é consciente, ele é totalmente subjetivo e sútil, mas essa é
outra discussão bem importante que não vem ao caso.
O
que fica decidido a partir de agora é que a realidade não existe e,
consequentemente, a verdade também não, por isso ninguém tem
razão nunca e, dessa forma, todas discussões podem ser excluídas
de todas as vidas. Eu tenho a minha razão. Se eu quiser chamar de
“mesa” o que determimou-se chamar de “computador”, posso
ficar à vontade.
“A
linguagem é fascista, autoritária”.
O
Kaspar Hauser e a aula de teorias da comunicação me enlouqueceram.
O músico inglês Roger Waters se apresentará dia 25 de março, domingo, no estádio Beria-Rio, em Porto Alegre. Ele mostrará na capital a turnê que iniciou em 2009, como comemoração dos 40 anos do disco The Wall, de 1979, tocando o disco na íntegra e na ordem original. The Wall é um disco duplo, conceitual, sobre guerra, problemas da infância e da educação, conflitos existenciais, vazio interior e tijolos. Podemos nos perguntar qual o sentido dos tijolos no meio de todos os outros temas. Waters nunca deu a explicação exata, mas entre todas as opções, a mais aceitável é a exposta pelo filme homônimo, dirigido por Alan Parker , estrelado por Bob Geldoff e produzido pelo próprio Waters. Como o pai do músico foi morto na segunda guerra e recebeu, como “homenagem”, uma sepultura simbólica em seu nome, em um muro, Waters estaria se utilizando de uma metáfora para dizer que seu pai deixou de ser humano para se tornar “just another brick in the wall” (apenas mais um tijolo no muro). Além disso, os tijolos representam os problemas que enfrentamos. Dessa forma, acabamos construindo um muro ao nosso redor, que nos separa do mundo, deixando-nos isolados. No primeiro disco, o personagem fictício relembra a infância com a ausência do pai, a indiferença da mãe e as humilhações pelas quais passava na escola. Após isso, ele entra em depressão, chegando ao ponto de rejeitar uma bela mulher, destruir a casa na presença dela e se despedir do céu azul, em “Goodbye, blue sky” e do mundo, em “Goodbye, cruel world” (adeus, mundo cruel), a última faixa do primeiro disco. Somente no segundo disco, ele percebe que já está dentro do muro e se pegunta: “is there anybody out there?” Não há resposta, as memórias da morte do pai e da guerra voltam, até ocorrer a loucura (palavra perfeita para descrever os fenômenos Floydianos) maior. Ele sonha que é um líder nazista, que está raspando todos os pelos do corpo, expulsando negros, judeus, usuários de drogas e homossexuais de um recinto. Após isso, espanca pessoas na rua e é ovacionado por seus adoradores, como um verdadeiro Fuhrer. Na faixa “Stop”, o personagem volta a ter certa lucidez e pede para que tudo pare. Mas não adianta. Em The Trial (o julgamento), penúltima faixa, ocorre o desfecho da história: “There must have been a door there in the wall when I came in” (tinha que haver uma uma porta lá no muro quando eu entrei). Mas o muro foi contruído pelo próprio prisioneiro narrador e não há mais saída. Dessa forma melancólica, Waters nos tira qualquer esperança de salvação, mas faz questão de nos lembrar, na última faixa, Outside the Wall, que ainda há vida lá fora, apesar de não podermos mais participar dela. Arrependido de ter se fechado para o mundo, o persongem tem seu trágico fim. É essa história genial, obscura e arrebatadora que faz de The Wall um dos maiores discos da história do Rock’n Roll e um dos marcos da contemporaneidade.
Já
faz um bom tempo que minha pretensiosa, perturbada e questionadora mente pensa
a respeito do mais complexo dos sentimentos. Depois de concluir que “não vai
haver amor nesse mundo nunca mais” (dá-lhe Marceleza), passei a tentar compreender
primeiro o que é o amor, para, finalmente, buscar compreender porque ele não
existe mais. (É preciso deixar claro que o amor aqui discutido é o que
supostamente ocorre entre casais de namorados, etc. Excluí-se, então,
obviamente, o que acontece de pai para filho, de neto para avó, entre amigos,
etc.)
Assistindo
ao filme “Jules et Jim” (Jules e Jim – Uma mulher para dois, François Truffaut,
França, 1962), encontrei um verdadeiro exemplo de amor, no sentido mais puro,
verdadeiro e sincero da palavra; Jules, interpretado de forma simples, porém
intensa, pelo ator Oskar Werner. Vale lembrar que esse amor ocorre apenas na
ficção, o que não tira dele o título de “amor verdadeiro”
O filme:
a belíssima e cativante Catherine (Jeanne Moreau) casa-se com Jules, que traz
seu amigo de infância, Jim, para morar com ele e com sua esposa. Recém casados,
já fazem um filho, que nasce enquanto a dupla de amigos está lutando na guerra.
A mulher cria a filha sozinha, enquanto troca cartas apaixonadas com seu amado.
Quando voltam do combate, a esposa passa a distanciar-se cada vez mais de
Jules, confidenciando a Jim que seu marido voltara muito mudado da guerra.
Jules, na verdade, venerava cada vez mais sua esposa. Jim e Catherine ficam
cada vez mais próximos e íntimos, até que ela resolve trocar de par. Enquanto
Jules brinca com a filha, sua esposa transa com seu grande amigo, na mesma
casa.
A
partir daqui, o filme deixa de ser simplesmente um roteiro bem feito filmado
por um diretor competente, para entrar para a história como um dos maiores
filmes já produzidos. A genialidade e grandiosidade de um, à época, jovem
cineasta. Truffaut nos tira do lugar comum e comprova a frase de apresentação
do DVD: “O melhor filme já feito sobre o amor”. Podemos pensar que Jules vai
matar os dois traidores (não chamaremos mais assim), que ele vai embora
revoltado ou que vai brigar e infernizar a vida dos dois. Nada disso ocorre.
Ele segue amando, admirando e venerando sua deusa, além de respeitar a decisão
dela. Isso é amor. Em uma conversa franca, Jim acusa Jules de tratar Catherine
como uma rainha. A resposta vem com um sorriso puro, através de uma voz
tranquila: “mas ela é uma rainha”.
Se
observarmos com um olhar desatento, podemos considerar a obra uma “putaria” ou
até mesmo a classificarmos como um simples triângulo amoroso. Mas não é assim,
milhões de vezes, NÃO.
Quem
ama de verdade não precisa provar, pode viver tranquilo, desde que seu(sua)
amado(a) esteja feliz e em paz. O Jules amava, de fato. Aceitou ser trocado,
pois percebeu que, no momento, Catherine achou que ele não era a melhor opção
para ela. Além disso, serviu de amigo e conselheiro, quando Jim fugiu sem
deixar notícias. Ele teve chance de transar com ela na ausência do amigo, mas
não o fez, visto que sempre respeitou, a cima de tudo, seu verdadeiro amor.
Quem
ama, cuida, protege, suporta, dá carinho, faz rir. E só. Não questiona, não
prende, não expõe, não mente, não oculta. E digo mais: o amor verdadeiro é
traído, mas aceita. Enquanto o lugar comum chama de corno, eu chamo de amor
inabalável, simplesmente amor. Se for diferente disso, não é amor.
Se
eu sinto ciúmes, o sentimento ridículo é meu e eu tenho que dar um jeito nele.
A pessoa que está comigo não tem culpa nenhuma e nem precisa ficar sabendo. Ter
ciúmes deveria deixar a pessoa envergonhada.
Após
compreender o que é amor, a mais nova conclusão é que ele não passa de um
horizonte inalcançável, um delírio daqueles que só a mente humana mais doentia
pode acreditar.
O fato de o verdadeiro amor ser inalcançável para a
mesquinhez humana não redime os outros sentimentos menores, elevando-os ao
status de amor. Assista “Jules
e Jim” e cuide-se, por favor, para não cair no lugar comum.